Setor feijoeiro pede socorro

O Brasil é hoje um dos maiores produtores de feijão do mundo, juntamente com Myanmar, Índia, Estados Unidos, México e Tanzânia. São três safras entre espécies cores, preto e caupi. Somente nesta safra a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), prevê 3.273 milhões de toneladas, um avanço que quase 2%.

O feijão é um dos alimentos básicos do brasileiro e o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) está preocupado com a manipulação de preços do feijão. A entidade denunciou, em carta aberta, que o setor pode viver um colapso com a política de preços aplicada. O presidente da entidade, Marcelo Eduardo Lüders, destaca que o alimento é social e sustenta o produtor de todos os outros produtos. “A situação é muito grave. Ao longo da história do país nenhum governo deu importância para a cultura do feijão. Muito alertamos que produtos da cesta básica não podem ter o mesmo tratamento de commodities, taxas de juros e afins”, alerta.

A entidade vai solicitar uma reunião extraordinária da Câmara Setorial no Ministério da Agricultura para avaliar a situação atual do setor feijoeiro no Brasil. “Feijão é a proteína mais barata, com menor impacto ambiental e que está presente na maioria das casas, principalmente das pessoas de baixa renda. Não vamos perder tempo achando culpados. Temos que achar soluções e temos boa recepção da ministra”, afirma.

Carta aberta ao setor Feijoeiro

“Não adianta fazer-se de distraído. Não adianta mais agora achar que pensamento positivo resolve as coisas. O setor de alimentos do Brasil está começando a enfrentar o colapso. Estamos no caos. Infelizmente não estamos saindo do caos, mas começando.

Não se trata de ser de esquerda ou de direita. Infelizmente a questão é de vida ou morte. Eu não estou falando da covid 19. Eu estou falando da situação de abastecimento de alimentos no Brasil. Eu estou falando de FOME e MORTE LENTA, em contraste à morte muitas vezes “rápida” advinda da covid.

Convoco todos os envolvidos no agro para evitarmos que a tragédia se torne hecatombe. E os responsáveis têm nome e endereço. Tem início pela manipulação que começa nas madrugadas do Brás, em São Paulo, em que meia dúzia de pessoas, não todas, manipulam, para o proveito de um grupo, os preços do mercado do Feijão, se aproveitando da omissão de todos os que foram avisados do que ocorria naquele local e não fizeram nada nos últimos 15 anos, enquanto o IBRAFE alertava que era preciso respeito com o Feijão. Aquela manipulação é uma das responsáveis, em menor ou maior grau, pelo caos que o nosso setor enfrenta. Na sequência, setores de governos passados, que foram muitas vezes alertados de que, independentemente à época de covid 19, caminhávamos para o caos. O Brasil não terá orgulho de ser o maior exportador de cereais às custas da morte de quem quer que seja.

Portanto, diante disso, você, produtor e comerciante brasileiro, obviamente foram vítimas, e não responsáveis, pelo resultado da política agrícola implementada para o nosso setor e pelo desrespeito à Causa do Feijão. Mas serão responsáveis se não participarem de uma frente nacional para combater a fome a partir da nossa trincheira dos Pulses.

Até agora, nosso setor muitas vezes parou, pensou, discutiu, planejou e propôs políticas, contudo nenhum governo executou, até a chegada da Ministra Tereza Cristina. Este desastre anunciado não é de responsabilidade da atual administração. O MAPA – Ministério da Agricultura, já manifestou que está conosco, porém sabemos que os recursos estão escassos. Todavia não medirá esforços e que cumprirá seu papel. Sendo assim, nunca fomos responsáveis pela política agrícola desenvolvida nos últimos 40 anos para o setor Feijoeiro. Mas seremos responsabilizados por parte da tragédia que VAI acontecer à frente. Vocês terão que plantar com garantias.

Com esta carta aberta, vocês, 1 milhão de produtores de Feijão do Brasil, com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Feijão, do MAPA, e com os melhores profissionais da produção, alinhados aos empacotadores, exportadores, corretores, à imprensa e outras boas empresas e instituições que nos apoiam, estão convocados a se juntar aos esforços também da atuante Câmara Setorial do Feijão de São Paulo, ao atuante CBFP – Conselho Brasileiro do Feijão e Pulses – e à ABRAFE – Associação Brasileira das Indústrias de Feijão. Junte-se a nós. Solicitaremos uma reunião extraordinária de nossa Câmara Setorial, sob o MAPA, e convidaremos todos a participar. E, mais uma vez, não pequem por omissão. Ainda dá tempo de salvar muitas vidas. A decisão é sua.

Viva o Feijão!”