Mais feijão em terras brasileiras

Mesmo com a redução da área plantada de feijão em 30%, o brasil vem provando que é possível elevar a produtividade do grão com o uso de novas tecnologias, em um espaço agrícola menor. Graças ao melhoramento genético de novas variedades, a produção feijoeira nacional cresceu 35% nas últimas quatro décadas, chegando aos atuais três milhões de toneladas ao ano.

Mais cultivado no País, o feijão carioca, por exemplo, teve um crescimento na produtividade de 0,72%, um acréscimo de 17 quilos por hectare ao ano. Isso se deve, exclusivamente, ao cultivo de plantas geneticamente superiores, conforme revela um estudo, divulgado pela unidade Arroz e Feijão (GO) da Empresa brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A estatal avaliou a eficiência de seu programa de melhoramento de feijão, baseado no cálculo do progresso genético com a cultura. Trata-se de um indicador que correlaciona características agronômicas – como a produtividade – e métodos usados para a seleção, cruzamento e avanço de gerações de plantas, as chamadas linhagens.

Avanço da produtividade

Considerando todo o período do estudo (de 22 anos), o avanço da produtividade de feijão representa um aumento acumulado de 380 quilos por hectare ou o equivalente a praticamente um terço da produtividade média nacional, que é de 1.354 quilos por hectare.

Pesquisador que esteve à frente deste projeto, o agrônomo luis Claudio de Faria, que trabalha no Programa de Melhoramento de Feijão da Embrapa, em Aracaju (SE), relata que o progresso genético foi estimado em uma série de experimentos no campo.

Eles foram feitos em conjunto com instituições parceiras, em quatro regiões produtoras (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste), abrangendo 20 ambientes diferentes, três épocas de semeadura (água, seca e inverno) e empregando uma base de dados com 22 anos de informações sobre linhagens e variedades.

“Como o estudo foi conduzido com repetições e em vários ensaios no campo, foi possível representar mais fielmente as condições de interação entre os genótipos e os diferentes ambientes de cultivo”, comenta Faria, que é mestre em Agronomia e doutor em Genética e Melhoramento de Plantas.

Ele acrescenta que, depois disso, foi feita “uma estimativa consistente do progresso genético médio para produtividade de grãos, por meio do método do tipo direto, permitindo alcançar resultados bastante precisos”.

Feijão carioca variedade bRs FC 402

Estimativa inédita

A estimativa do progresso genético para a produtividade de grãos na cultura do feijão carioca no Brasil é inédita, levando em conta que esta avaliação nunca foi realizada em âmbito nacional, ou seja, com os dados das principais regiões produtoras do País.

De acordo com o pesquisador, isso só foi possível graças à ligação do programa de melhoramento da Embrapa à rede de instituições de pesquisa estaduais, que apoiaram a iniciativa. Em caráter regional, muitas dessas instituições já realizaram estudos semelhantes e chegaram a resultantes parecidos (veja abaixo).

Qualidade do carioca também melhorou

Conforme a Embrapa, não foi somente a produtividade do feijão carioca que aumentou: sua qualidade também. No período analisado, o grão apresentou um ganho significativo nesse quesito de 2,37% ao ano.

O atual cenário, segundo a estatal, se relaciona a aspectos valorizados pelo consumidor e pela indústria, como o tempo de cozimento, coloração do caldo de feijão, não escurecimento do produto empacotado e rendimento de grãos inteiros no beneficiamento.

Faria destaca que o estudo do progresso genético serviu também para verificar se devem ser feitos ajustes nos rumos do programa de melhoramento de feijão carioca, a fim de aprimorar seu desempenho.

“O progresso genético nas duas características mais importantes – produtividade e qualidade de grãos – evidencia que o caminho seguido está na direção desejada e que, pelo menos por enquanto, não é preciso adotar nenhuma medida corretiva”, avalia.

Ele cita, apesar disso, outros aspectos que precisam ser ajustados: “A seleção para produtividade de grãos gerou alguns resultados desfavoráveis para arquitetura ereta de plantas e a tolerância ao acamamento (tendência da planta se deitar sobre o solo). Com isso, as linhagens mais produtivas não, necessariamente, representam progresso também para essas outras duas variáveis”.

O agrônomo esclarece que isso ocorre “porque a associação entre a produtividade e a arquitetura ereta de planta e a tolerância ao acamamento só foi realizada recentemente nas linhagens do grupo carioca”. “E esse é um exemplo de desafio para o programa de melhoramento nos próximos anos.”

Melhoramento genético

Qualidade do feijão carioca melhorou nos últimos anos. na foto, a variedade bRs FC 104

O estudo sobre o progresso genético do programa de melhoramento do feijão carioca no brasil foi coordenado por pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (GO), Embrapa Milho e sorgo (MG) e Embrapa Tabuleiros Costeiros (SE); e por professores da universidade Federal de Goiás (uFG) e Escola superior de Ciências Agrárias de Rio verde (GO)

.A Embrapa já lançou mais de 20 cultivares de feijão carioca para o País. A leguminosa é cultivada ao longo do ano por pequenos, médios e grandes produtores, em ecossistemas subtropical e tropical, como Cerrado, Mata Atlântica e Semiárido, em variados arranjos de plantas, em monocultivo ou plantio consorciado.

O Brasil é um dos maiores países produtores e consumidores de feijão ao lado da índia, Myanmar, China, Estados unidos e México.

Valor nutricional

O produto está na dieta do brasileiro e é, reconhecidamente, uma excelente fonte de proteína. De modo geral, até por conta da variedade hoje existente, o feijão é bom para a saúde por fornecer carboidratos que proporcionam energia para o dia a dia, além de nutrientes essenciais para uma vida saudável.

O grão contém proteínas ricas em lisina, vitaminas (principalmente as do complexo B), sais minerais (como ferro, cálcio, potássio e fósforo) e fibras (que ajudam no bom funcionamento do intestino e no controle dos níveis de colesterol e glicose do sangue).

A concentração elevada do aminoácido lisina no feijão é considerada de grande valor na complementação das proteínas dos cereais, como o arroz. Para mais detalhes sobre o valor nutricional do feijão, acesse o documento da Embrapa “O feijão na alimentação humana” pelo link (encurtado): ow.ly/D8hT30mjUqK.BRs FC104

Potencial produtivo da bRs FC 402 é de 4,5 mil quilos por hectare

A Embrapa e instituições parceiras lançaram, recentemente, duas cultivares de feijão, resultados de estudos científicos coordenados por pesquisadores da estatal: superprecoce bRs FC104 e bRs FC402.

A primeira variedade é do tipo carioca, sendo inédita no mercado no quesito “superprecoce”, por apresentar ciclo abaixo de 65 dias – da semeadura à maturação dos grãos. Geralmente, uma variedade deste grão possui ciclo de três meses, sendo as mais precoces com ciclo de aproximadamente 75 dias.

De acordo com a Embrapa, estas características oferecem uma vantagem competitiva para o agricultor, além do fato de a cultivar ter um elevado potencial produtivo chegando, em média, a 3.792 quilos por hectare, com produtividade que gira em 60 quilos de grãos para cada dia de ciclo. seus grãos curtos e sem brilho são da cor bege-claro e estrias marrom claras.

Você Sabia? – Deixar o feijão de molho é um procedimento recomendável, pois, além da já conhecida redução do tempo de cozimento, ocorre a diminuição ou eliminação de quantidade considerável de alguns compostos – chamados de taninos e fitatos, que diminuem a digestibilidade de certos alimentos, e dos oligossacarídeos, compostos que causam flatulência (formação de gases intestinais). Na hora de cozinhar, não use a mesma água do feijão que ficou de molho.

O tempo médio de cocção é de 37 minutos. Em relação às doenças, a cultivar é moderadamente tolerante à ferrugem e levemente suscetível à antracnose, ao crestamento bacteriano-comum e à murcha de curtobacterium. Também se mostrou suscetível à mancha-angular, à murcha de fusarium e ao mosaico dourado.

BRs FC402

Lançada em 2017 e também do tipo carioca, a bRs FC402 possui ciclo normal – cerca de 90 dias. Apresenta arquitetura de planta tipo semiereto e massa de cem grãos de 26 gramas, do tipo comercial.

Seu potencial produtivo gira, em média, em 4,5 mil quilos por hectare, sendo indicada para as safras das águas, seca e inverno. A cultivar tem alta resistência à antracnose e murcha de fusarium, além de um elevado potencial produtivo e qualidade comercial de seus grãos, que são uniformes e com alto rendimento de peneira.

IAC 1850 Aliança

Nova cultivar de feijão carioca desenvolvida por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de são Paulo (sAA), e lançada em abril de 2018, a IAC 1850 Aliança tem alta produtividade, confirmada em 36 experimentos realizados nos Estados de são Paulo, Paraná, Goiás e Mato Grosso, durante os anos de 2016 e 2017.

Os testes foram feitos para as épocas de semeadura das águas, da seca e de inverno. Nestes períodos, a variedade apresentou produtividade de 2.975 quilos por hectare, 2.607 e 2.989, respectivamente.

“Os grãos tem potencial para excelente aceitação de mercado, tanto pelo tamanho quanto pela tolerância ao escurecimento, tornando-se uma característica de grande interesse para a indústria empacotadora”, afirma o agrônomo Alisson Fernando Chiorato, pesquisador do IAC.

Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical e doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas, o especialista destaca que o “O novo carioca deverá agradar também aos consumidores por apresentar qualidade de grãos e de caldo, que é espesso e claro, além do teor de proteína de 21%, dentro da média dos materiais existentes no mercado”.

Segundo Chiorato, o consumidor de feijão prefere o grão mais claro, com caldo também mais claro e que mantenha esse aspecto por maior tempo.

Mais resistente

A cultivar IAC 1850 Aliança é resistente às principais raças da antracnose

A IAC 1850 Aliança é resistente às principais raças da antracnose e tolerante à murcha de fusarium, viabilizando a redução do uso de produtos químicos em torno de 20%, sendo recomendada para o cultivo nos Estados de são Paulo, Paraná, santa Catarina, Rio Grande do sul, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Chiorato afirma que a nova cultivar veio para substituir a IAC Milênio, lançada em 2016, que apresentou alta vegetação e por isso gerou certa recusa por parte dos agricultores. “A IAC 1850 Aliança não apresenta esse problema.”

“A alta vegetação prejudica porque origina na planta vagens verdes e outras já em estágio de colheita, no mesmo período; esse descompasso interfere negativamente na colheita”, explica o agrônomo.