FOCO RURAL entrevista o Professor Doutor Júlio Cesar Guerreiro da UEM do Campus de Umuarama, sobre a praga do Migdolus na plantação da Mandioca.

A mandioca é a terceira cultura alimentar mais importante  depois do arroz e milho, e é um alimento básico para, pelo menos, 700 milhões de pessoas na África, América Latina, Ásia e Ilhas do Pacífico.

Entre as características, destacam-se sua tolerância a solos pobres em nutrientes e à seca, e sua importância para a segurança alimentar e nutricional, ou seja, garantia de condições de acesso aos alimentos básicos, seguros e de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Além disso, é uma importante fonte de renda nos países em desenvolvimento, onde é cultivada principalmente por pequenos agricultores.

Como a grande maioria das culturas, os maiores problemas da mandioca se devem ao ataque de pragas e doenças, que comprometem o desenvolvimento das plantas e a produção agrícola. Até o momento, sabe-se que a mandioca é atacada por pelo menos 200 espécies de artrópodes pragas conhecidos por causar perdas de rendimento de raiz. Destacam-se como pragas de maior importância o mandarová, o ácaro, percevejos, mosca-branca, brocas, cochonilhas, besouro congo ou Migdolus e formigas cortadeiras.

O FOCO RURAL procurou o Doutor Professor e Pesquisador da Univesidade estadual de Maringá (UEM) – Umuarama, Júlio Cesar Guerreiroe que tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Entomologia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas: pragas, predador, joaninha, seletividade de inseticidas e cochonilhas. E grande pesquisador sobre a praga do Migdolus.

“O Migdolus,  fala o Professsor Júlio Cesar, embora seja citado associado à mandioca, esporadicamente observavam-se danos significativos, sendo que esse panorama vem mudando nos dois últimos anos, principalmente na nossa região Noroeste do Paraná. Temos poucas informações sobre seus hábitos, biologia e danos, na cultura da mandioca.

“Migdolus tem o desenvolvimento larval no interior do solo. Somente os adultos saem para o exterior. Os machos são voadores, já as fêmeas apenas caminham pelo solo, na ocasião da cópula. O ciclo biológico completo (ovo, larva e adulto), pode ultrapassar mais de 12 meses.” Disse o professor.

“O Migdolus é um inseto de difícil controle, além disso, é quase impossível uma previsibilidade onde o inseto irá aparecer em cada ano. Com isso, faz-se necessário o emprego de medidas de controle basicamente por toda área de plantio da cultura da mandioca, elevando o custo da produção. Outro aspecto é que quando se aplicam inseticidas químicos, para controle dessa praga os produtos recomendados apresentam persistência indeterminada no solo podendo alterar todo o agroecossistema no que diz respeito a organismos benéficos.”

O pesquisador da Uem, fala que: “Embora diversos inseticidas de solo tem sido testado para Migdolus poucos tem sido utilizados comercialmente. O Migdolus é um inseto de solo complicado de ser controlado. O Migdolus tem a capacidade de se aprofundar no solo em determinada época do ano. A larva pode chegar a 3 a 4 metros de profundidade no solo. Por isso é difícil o controle usando o inseticida. Se pensar vou usar o inseticida no plantio, na maniva, é complicado porque o inseticida tem tempo, tem validade naquele local. O Migdolus fica no solo, pode entrar em dormência.”Explica o professor Júlio Cesar.

Aqui em Umuarama, fala o professor, “tem um detalhe, este inseto prefere solo arenoso, ele tem condições de se desenvolver melhor em solos arenosos”. Outro detalhe, frisa o professor, “é que as terras são arrendadas, o produtor rural arrenda as terras por um ano, dois anos, para fazer uma renovação da terra para o pecuarista. Nesta condição, o agricultor que pega esta área, e se tiver uma rebolera desse inseto na área, ele não cuida, não coloca armadilha com feromônio para evitar ou reduzir a copula e evitar que as fêmeas coloquem os ovos, isso no período de revoada. É difícil eles comprarem, porque eles tem tempo, é rápido, eles vão ficar um ano, dois anos e vão para outra área. E aí a praga vai aumentando, vai se dispersando, e é uma praga que gosta muito da cana de açúcar, a nossa região tivemos muitas áreas de cana de açúcar que foram abandonadas ou a usina deixou de usar.”comenta o professor.

“ As larvas dessa espécie, diz o professor, ao se alimentarem das raízes de mandioca, ocasionam danos diretos que variam de simples raspagens a perfurações profundas nas raízes. As perfurações levam a danos pela entrada e desenvolvimento de organismos como fungos, que podem levar ao apodrecimento localizado das raízes.”

O Migdoulos tem baixa movimentação da espécie, ela se dá pelo caminhamento das fêmeas na superfície do solo, “As fêmeas tendem a botar os ovos em áreas próximas ao local onde ocorreu as revoadas e cópula. Mesmo tendo baixa dispersão, o migdoulos tem migrado silenciosamente em várias regiões do noroeste do Paraná. O Migdoulos é pouco percebido, e assim atingem novas áreas sem serem detectados. Isso acontece principalmente em terrenos de pouca intensidade de cultivo ou em locais abandonados, mesmo que temporariamente.”

 “O método de controle químico, por sua baixa ação no solo e temos poucas opções para a cultura da mandioca, é praticamente ineficiente para o controle do Migdolus. Muitos agricultores, na tentativa de controlar quimicamente a praga utilizam inseticidas não registrados para a mandioca e com métodos de aplicação pouco eficientes, causando o aumento da contaminação ambiental e do próprio agricultor”, advertiu Guerreiro.

O Professor Julio César esclareceu que técnicas de controle devem ser utilizadas de forma conjunta visando o manejo racional da praga, com destaque para a necessidade de se fazer a movimentação do solo em reboleiras de ocorrência da praga, rotação de culturas.

O pesquisador fala que: “O método comportamental de controle, que atua através da atração de machos com a utilização de feromônios (cheiro da fêmea sintetizado), surge como alternativa técnica para o levantamento populacional e controle racional da praga.”

O Professor Julio Cesar fala que: “É importante destacar que a ocorrência desta praga em plantios da mandioca da região Noroeste do Paraná tem aumentado dia-a-dia, e que seu controle não se dá de forma imediata. Por mais que se utilizem produtos químicos, a eficiência desta técnica é questionável, principalmente pelo comportamento da praga.”

 “O Manejo do Migdolos deve ser realizado de maneira contínua e constante, ano após ano, porém, essa sugestão tem sido pouco aplicada pelos produtores que arrendam áreas já infestada pela praga, para o plantio da mandioca. Assim, se estabelece um grande desafio aos pesquisadores para a motivação dos agricultores para o controle do Migdolus, mesmo com as dificuldades comportamentais da praga e controle devido a utilização temporária da terra.”