Europa apela para que desempregados ajudem setor agrícola em meio à falta de mão de obra

Quando os efeitos da pandemia de coronavírus levaram ao fechamento de seu restaurante, o chef alemão Patrick Mayer trocou os instrumentos de cozinha por ferramentas agrícolas, e agora passa seus dias colhendo aspargos –trabalho normalmente realizado por funcionários temporários provenientes da Romênia.

Da Itália ao Reino Unido, as restrições a viagens para conter a disseminação do Covid-19 deixaram fazendas da Europa Ocidental com mão de obra escassa, diante da ausência de centenas de milhares de trabalhadores migrantes, gerando temores de que os cultivos poderiam acabar apodrecendo nos campos.

França e Alemanha já lançaram programas para que os trabalhos sejam supridos, apelando para que pessoas que perderam o emprego durante a pandemia preencham a lacuna. Os britânicos devem anunciar uma campanha semelhante, a “Colha para o Reino Unido”, em breve.

Enquanto isso, a Espanha, uma grande exportadora de vegetais, disse que permitirá que, além dos desempregados, imigrantes ilegais também sejam contratados pelo setor agrícola –uma ideia semelhante tem sido cogitada na Itália, em meio a temores de que a máfia possa explorar a crise.

A escassez de mão de obra foi uma dor de cabeça imediata para os produtores alemães, onde o mês de abril marca a “Spargelzeit” –temporada dos aspargos–, uma safra que não é apenas valorizada como iguaria nacional, mas também celebrada por chegar ao ápice na primavera (do Hemisfério Norte).

Após fechar suas fronteiras em 25 de março, o país anunciou neste mês que vai flexibilizar as restrições para permitir a entrada de cerca de 80 mil trabalhadores sazonais em abril e maio.

A Alemanha também lançou um website à procura de 20 mil trabalhahdores locais. Os alvos são os desempregados, os que estão em férias coletivas, estudantes e pessoas em busca de asilo.

“Coloquei meu anúncio de noite e no dia seguinte meu telefone não parava de tocar”, disse Simon Moser, que gerencia uma fazenda em Lauffen am Neckar, no sudoeste alemão.

Entre seus recrutados está Mayer, que disse que o trabalho pesado quase o matou na primeira semana.

“Esse trabalho é definitivamente diferente do que eu estava acostumado a fazer”, contou à Thomson Reuters Foundation.

O trabalho fez com que ele passasse a ter ainda mais respeito pela mão de obra migrante da Alemanha, que costuma vir da Polônia, Bulgária, Romênia e Hungria e recebe o salário mínimo de 9,35 euros por hora.

“Eu tiro meu chapéu pelo que eles fazem, porque nenhum alemão iria gostar de fazer isso”, disse.

(Reportagem adicional de Elena Berton, Sophie Davies, Emma Batha e Umberto Bacchi)