“Defensivo agrícola é remédio”, diz o ex-ministro Roberto Rodrigues

O Brasil é apontado como um dos países que mais utilizam defensivos agrícolas em suas lavouras. Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura durante o primeiro mandato do governo Lula e atual Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, afirmou que isso acontece porque o Brasil é o único país do mundo que faz duas safras agrícolas por ano e é de clima tropical, com muito mais pragas e doenças que uma nação de clima temperado.

“Defensivo agrícola é um remédio. A questão é usar o remédio certo, na dose certa, para a doença certa e na planta certa. Infelizmente, muitos aplicavam errado, porque não tinham os defensivos certos para determinada doença”, disse Rodrigues.

Engenheiro agrônomo e professor, Rodrigues explica que, até quatro anos atrás, registrar uma nova molécula no país levava, em média, oito anos e meio, enquanto nos países desenvolvidos são cerca de dois anos. “O governo Temer e o de agora desburocratizaram o processo. As moléculas novas são mais sustentáveis que as antigas, menos agressivas ao ambiente e ao ser humano. Portanto, é importante liberar novas substâncias. Se usarmos o cálculo de utilização por quilo de defensivos por hectare plantado, o Brasil está em 6º lugar no ranking, atrás de Alemanha, Japão e outros.” 

Rodrigues defendeu o acordo fechado em junho pelo Mercosul e a União Europeia. “Ele coloca o Brasil de novo no tabuleiro global de comércio. Hoje, estamos fora disso, ficamos décadas sem fazer acordos. (…) A briga comercial entre os Estados Unidos e a China está produzindo um neoprotecionismo agrícola. E isso vai quebrar as pernas dos países emergentes, como nós. O acordo nos abre oportunidades e acaba mitigando esse risco do neoprotecionismo, que vinha crescendo”, afirmou.

O professor da FGV critica o desmatamento ilegal e as queimadas propositais. “É caso de polícia. (O governo) tem de punir exemplarmente quem desmatar ilegalmente e quem puser fogo irregularmente. É um tema que tem de ser resolvido pela polícia. É papel do governo evitar, tanto o federal como o estadual e o municipal. E o setor privado tem de ajudar.” Rodrigues afirma que os agricultores brasileiros condenam o desmatamento ilegal.

“Quem faz desmatamento? É o madeireiro. É o garimpeiro. É o invasor de terra. Não é o produtor rural.”

Para o engenheiro agrônomo, é perfeitamente possível compatibilizar a produção agrícola com a sustentabilidade com um único caminho: tecnologia adequada. Ele alerta, porém, que a atual explosão tecnológica pode excluir o pequeno produtor.

“Os grandes têm equipes técnicas que conseguem receber as informações e aplicar os produtos, aumentando a produtividade e reduzindo os custos. Já o pequeno não consegue aprender tudo. Para reverter essa situação, as cooperativas brasileiras precisam se ocupar da difusão de tecnologia e da conectividade, reduzindo o custo para todos, pequenos, médios e grandes produtores.”