Por Celso Daniel
1) O que é MIP?
É o Manejo Integrado de Pragas – MIP, ou o arranjo e uso de técnicas que se baseiam no conhecimento sobre o comportamento e a biologia dos insetos praga, dos insetos que atuam como inimigos naturais e da lavoura que está sendo cultivada.
2) Como você define a técnica?
É um conjunto de técnicas que são utilizadas no controle de pragas. Todas as técnicas empregadas no MIP são validadas por pesquisas e experiências de campo desenvolvidas pela Emater, entre outros. Por exemplo, no controle da Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis) só se recomenda a intervenção com produtos químicos, antes do florescimento, quando a desfolha está para alcançar a marca de 30% da área foliar; e depois do florescimento, quando está por alcançar os 15%. No entanto, é evidente que devem ser consideradas as condições e previsões climáticas para os próximos 10 dias, permitindo tomar uma decisão bastante segura de intervenção com o uso de inseticidas. E, nesse caso, o recomendado é utilizar produtos seletivos aos inimigos naturais, sempre que possível. A estratégia central do MIP é sempre a de causar o menor impacto possível no ambiente, permitindo que a natureza também ajude no controle das pragas que estão causando o dano econômico. É justamente esse outro ponto central, as pragas só devem ser controladas quando provocam um dano que justifique o seu controle. Os produtores estão se equivocando ao não entenderem isso, eles não tem tolerado a presença dos insetos praga e iniciam o controle antes do ponto, quando seria justificável o controle, isso que amplia o número de aplicações equivocadas e desequilibra o ambiente desnecessariamente. Outra técnica de MIP que pode ser utilizada em outras culturas além da Soja, como no Milho, Algodão, Tomate, etc., é o uso de parasitoides (micro himenópteros) para o controle das lagartas (nesse caso o Trichogramma pretiosum) e dos percevejos da Soja (com o uso do Trissolcus basalis). Hoje em dia, já existe fornecedor idôneo desses parasitoides no Brasil.
No caso do uso Trichogramma, é comprovadamente eficiente para resolver os problemas com algumas pragas importantes, que estão aí causando apreensão entre os produtores, como é o caso da: Lagarta-falsa-medideira (Pseudoplusia includens), a Lagarta-da-espiga do Milho (Helicoverpa zea), a Lagarta-das-maçãs do algodoeiro (Heliothis virescens) e, da temida Helicoverpa armigera, (conhecida anteriormente com a Traça-do-Tomateiro).
3) Quais as vantagens?
O uso das técnicas de MIP são mais econômicas e ajudam na melhoria do equilíbrio do ambiente de produção, isso ocorre até mesmo em áreas pequenas, quando estas se situam cercadas por outros produtores que não adotam essas técnicas. Essa tem sido a experiência da Emater. Além disso, o uso das técnicas de MIP permite ao produtor ter mais segurança e eficiência no controle das pragas, reduzindo o número de aplicações, pois possibilita eliminar aquelas desnecessárias. Assim, eles conseguem reduzir a carga de agrotóxicos utilizada em suas lavouras, minimizar a sua exposição aos produtos químicos e proteger a sua saúde. Também se reduz os riscos de contaminação ambiental.
4) A técnica pode ser adotada em qualquer propriedade? E nas grandes propriedades como fica o controle?
As técnicas de MIP podem ser adotadas em qualquer tamanho de propriedade, contudo, exigem um monitoramento mais constante dos talhões pelos produtores e profissionais que os assistem. Além disso, exigem mais conhecimento e capacitação.
5) Ao mesmo tempo em que os químicos combatem as pragas, eles afetam os inimigos naturais dessas pragas. Assim, como usar manejo integrado quando os químicos acabam afetando a fauna no entorno?
É também nesses tipos de casos que as técnicas que compõe o MIP tem sido eficientes para melhorar o equilíbrio na lavoura, isso já na primeira safra com o seu uso, garantem as nossas experiências (Emater).
6) Ao seguir o calendário para aplicação de inseticidas o produtor pode eliminar os predadores naturais contra as pragas? o que acontece?
Ao utilizar inseticidas sem critérios técnicos respaldados pelas pesquisas desenvolvidas por organismos como as Embrapa, o Iapar, as Universidades, e recomendados pela Emater e outros profissionais qualificados da iniciativa privada, o produtor acaba eliminando desnecessariamente e prematuramente os inimigos naturais das pragas, que o ajudariam no controle. Assim, o que visivelmente e num primeiro momento parece muito eficiente, se volta contra o próprio produtor, pois permite à rápida reinfestação dos insetos praga, exigindo uma nova intervenção química para o controle. Dessa maneira, se inicia uma roda viva que pode não ter fim, e nesse jogo quem sai perdendo, normalmente, é o produtor, pois com o excesso de uso ele acelera a seleção dos insetos-praga e aumenta a necessidade de intervenções.
7) Quais os critérios que o produtor deve seguir ao adotar o MIP?
Os produtores e profissionais tem que seguir os protocolos de controle e as pesquisas desenvolvidas no meio científico, é o que nós da Emater buscamos fazer. O princípio básico é de só intervir quando se atinge o Nível de Dano Econômico causado pelo inseto nas lavouras. É o ponto em que o prejuízo causado pelo inseto-praga vai ultrapassar o custo de controle. Por isso que essas práticas exigem mais conhecimento e certa convivência com a presença das pragas.
8) Você comentou do MID em relação aos coletores de esporos viáveis de ferrugem asiática, como funciona esse monitoramento? Quais as vantagens aos produtor? Como ele pode se previnir contra a doença?
A Ferrugem Asiática da Soja nas lavouras do Estado do Paraná tem origem a partir da germinação esporos (sementes da doença) desse fungo. Esses esporos se geram normalmente nas plantas chamadas tigueras e nas lavouras de países vizinhos, que são plantadas muito cedo. E, quando as condições climáticas (umidade) são favoráveis, esses esporos são transportados pelas correntes de vento e com o avanço das frentes frias. O que a Emater fez, foi instalar alguns coletores de esporos em alguns municípios estratégicos do Estado. Esses coletores são equipados dotados com lâminas de vidro autoadesivas, onde podemos monitorar a eventual chegada e a viabilidade dos esporos da Ferrugem Asiática. Assim que são detectados os primeiros esporos é feito e teste de germinação dos mesmos e, se for confirmada a sua capacidade germinativa desses esporos, nós emitimos o aviso ao sistema de Alerta da Ferrugem, e aos clientes e parceiros localizados nos municípios próximos à estação: Sindicatos do Sistema FAEP e FETAEP, Banco do Brasil, além de outros. Quando o alerta da presença e viabilidade é acionado os produtores tem um prazo, dependendo das condições climáticas, entre 7 a 10 dias para realizar a aplicação de fungicidas com total segurança. Só assim se justifica o uso do fungicida para o controle dessa doença. O resto é desperdício de tempo e de dinheiro. A experiência adquirida pela Emater aponta a ocorrência de safras em que, por conta da baixa umidade do ar, os esporos não chegam ao nosso Estado, ou quando chegam, já estão inativados pelos raios U.V. emitidos pelo sol. Por outro lado, também podem ocorrer excepcionalmente situações em que a aplicação seja necessária até mesmo antes do calendário de aplicação que os produtores seguem. É por isso que o monitoramento da Ferrugem é indispensável. Analisem, ocorrem situações em algumas safras onde o controle com fungicidas é totalmente dispensado, e isso permitiria colher a Soja com pelo menos uma semana de antecedência, não é um prazo importante a ser aproveitado para antecipar o plantio do milho safrinha em muitas regiões do Estado?
9) Como funciona o MID?
Da mesma maneira que o MIP, no MID é arranjado alguns conhecimentos e técnicas comprovadas cientificamente, com base no comportamento e na biologia dos fungos e das cultivares na lavoura. Isso é que nos auxilia na tomada de decisão sobre o momento e a técnica mais eficiente de controlar as doenças, ou até mesmo não fazer o controle.
10) Quais são os passos que produtor deve seguir se quiser adotar o MIP e o MID?
– Primeiramente é conhecer as técnicas e experiências existentes, participando de eventos organizados pela Emater e as organizações de pesquisa oficiais. Nestas ocasiões é possível aprender com a experiência dos produtores que já adotam essas práticas.
– Discutir com o profissional que o assiste o planejamento para a instalação da lavoura, optando por cultivares mais resistentes ou tolerantes, quando for possível. Além disso, existem estratégias de época de plantio que pode ser adotadas, melhorando as condições para das técnicas preconizadas.
– Procurar informações e assessoria de profissionais habilitados para isso.
– Monitorar a área semanalmente, não tem outro jeito, e quando isso não for possível ajustar o monitoramento com o seu assistente técnico ou pragueiros, que podem ser trainados entre os vizinhos ou mesmo contratados.
– Antes de fazer a intervenção, avaliar a situação com a assistência de um profissional habilitado para tal. E, só fazer a intervenção quando necessário.
– Avaliar o resultado da intervenção, para aperfeiçoar seu conhecimento e prática com a utilização das técnicas de MIP e MID.
11) O MIP e o MID está avançado no Paraná? no Brasil? Qual país é modelo na adoção da técnica?
O uso das técnicas de MIP e MID está avançando no Parana e no Brasil. Elas, por vezes, tem sido as únicas alternativas viáveis para reverter os graves problemas que os produtores tem enfrentado no controle de pragas e doenças.
No mundo elas são conhecidas e utilizadas desde a década de 1970, e tem avançado em países com o Canadá, E.U.A, na Europa em países como a Alemanha, França, Itália e Espanha., na Ásia e Oceania destacam-se a China, o Japão e a Austrália.
Por:
Celso Daniel Seratto
Engº. Agrônomo – M. Sc. Economia
Coordenador do Trabalho com Grãos da
EMATER – Unidade Regional de Maringá-PR