Dar autonomia para o produtor de grãos, reduzir custos e melhorar a qualidade do milho e da soja usados na alimentação dos animais. Esses resultados já são visíveis em 119 propriedades rurais de Santa Catarina, onde a Epagri orientou a construção de 138 silos para secagem e armazenamento de grãos. Eles são fruto de um trabalho intensificado a partir de 2016, quando técnicos da Epagri e agricultores conheceram experiências de sucesso no Rio Grande do Sul e buscaram apoio técnico da Emater-RS.
O silo de grãos na propriedade tira as famílias da dependência de empresas e cerealistas. Para levar os grãos até esses locais, os produtores têm despesas com frete, além dos custos de secagem e armazenagem. E quando os grãos voltam à propriedade, a perda de qualidade provocada pela movimentação e pelo ar quente da secagem acabam impactando no desempenho dos animais.
O modelo desenvolvido pelos gaúchos pode ser dimensionado para armazenar de 100 a 3 mil sacas de grãos. Para ampliar a capacidade, o produtor pode construir mais unidades. A estrutura é cilíndrica, de alvenaria, com um fundo falso construído em ripas de madeira. Esse fundo permite a circulação do ar promovida pelo ventilador. O silo não tem tampa e deve ficar em uma área coberta.
As primeiras estruturas foram construídas no Extremo Oeste do Estado e logo a tecnologia alcançou outras regiões catarinenses. A Epagri elabora e acompanha a execução dos projetos técnicos, dimensionando o silo de acordo com a necessidade do produtor, a quantidade e o tipo de grãos, e orienta as famílias na operação do sistema.
Foi assim que aconteceu na propriedade de Maicon Lolato, em São Miguel do Oeste, que tem 80 cabeças de gado, das quais 35 são vacas em lactação. O silo, com capacidade para 1,5 mil sacas, foi instalado no início de 2018 e custou R$37 mil, financiados pelo Pronaf Mais Alimentos por dez anos, com juros de 2,5% ao ano. “É um ótimo negócio porque a gente tem o milho na propriedade. O grão tem mais qualidade, sem contar na resposta e na sanidade dos animais, que desempenham melhor com a ração feita em casa”, diz Maicon, que é recém-formado em Agronomia.
Para armazenar e secar os grãos em um silo tradicional, a família deixava como pagamento 20% do total enviado, que se somavam aos custos para percorrer 14km por mês com o produto. Agora, consegue até lucrar mais com a venda do excedente. “O pessoal prefere pagar um pouco mais pela saca desse milho porque ele tem uma qualidade bem maior. Com essas vendas e a economia com armazenagem e frete, acredito que em quatro anos o investimento esteja pago”, projeta Maicon.
Como é feito o silo
A elaboração do projeto deve ser acompanhada por um profissional da agronomia, pois requer alguns cálculos para dimensionar o tamanho ideal, conforme as necessidades e condições do agricultor. “É fundamental procurar a Epagri para que se faça o correto dimensionamento e a respectiva orientação de construção e operação. Não recomendamos ao produtor fazer por conta própria o silo, sob pena de não dimensionar adequadamente e, consequentemente, não funcionar corretamente”, esclarece Elvys Taffarel, extensionista rural da gerência regional da Epagri em São Miguel do Oeste.
Para uma capacidade de 600 sacas de milho, o diâmetro interno deve ser de 5,4 metros e a altura de 2,8 metros, por exemplo. Essas dimensões podem ser alteradas, mas a construção será sempre mais larga do que alta, em função do aumento de energia necessária caso o silo seja muito alto. Existe uma altura máxima e as medidas devem ser seguidas à risca.
A estrutura é redonda, com o fundo reto, e sem tampa. Por não ter tampa, o silo deve ser construído numa área coberta, como um galpão. Ele deve ser feito de alvenaria armada (tijolos, argamassa e ferro). Na lateral fica um ventilador, que tem o motor acoplado diretamente no eixo (motor do tipo axial), utilizado para fazer a ventilação forçada dos grãos que vão secar.
Sobre o fundo de concreto do silo, deve ser colocado um fundo falso, construído em madeira. Ele é feito de ripas trançadas sobre pilastras de madeira para ficar elevado do solo. Essa estrutura de ripamento, a altura dos pilares e o diâmetro são calculados de acordo com as dimensões do silo e a capacidade de armazenamento. Sobre o ripamento ainda vai uma tela tipo sombrite ou galvanizada. “O importante é que a malha seja pequena para que o grão não passe por ela”, alerta Elvys.
É esse fundo falso que vai permitir a circulação do ar promovida pelo ventilador. A estrutura do fundo deve ser construída dentro do silo, depois que as paredes foram levantadas, para que fique mais ajustada. Ela não deve ser construída fora e depois colocada dentro do silo, pois isso iria dificultar sua instalação e comprometer o ajuste em relação ao silo.
Os grãos devem ser colocados pela parte de cima do silo, com a ajuda de um elevador ou um caracol. Após o término do enchimento, mesmo que seja parcial, o agricultor deve deixar os grãos em um nível plano, para que a pressão estática seja idêntica em todas as partes e o ar saia com fluxo equivalente em todos os locais.
Investimento
Segundo Elvys, um silo com diâmetro interno de 6,6m e 3,15m de altura (2,4m com grãos) tem capacidade para armazenar mil sacas de milho e custo aproximado de R$22 mil. Ele lembra que esse valor não inclui a estrutura do galpão onde o silo será instalado. Destaca, ainda, que o investimento pode variar de acordo com questões locais, como preços de materiais e mão de obra.
Silos com capacidade acima de mil sacas têm custos menores por saca armazenada, quando comparados a silos de tamanho inferior. “Mesmo assim, se dividirmos o custo de construção pela capacidade de armazenamento e pagamento em dez anos, com financiamento do Pronaf, o custo anual é equivalente ao que o produtor gastaria com o frete de ida e retorno à propriedade”, revela.