A pecuária de corte tem vivido bons momentos, com aumentos sucessivos no valor da arroba do boi; recentemente o valor atingiu seus patamares históricos, chegando a R$ 200/arroba (segundo monitoramento diário de mercado do Cepea) pela primeira vez desde novembro de 1991! Segundo os especialistas deste mercado, esse cenário é resultado do maior volume de exportação de carne bovina, em particular para a China. No entanto, como a pecuária de leite se encaixa nesse contexto? As recentes quedas no preço do leite associadas a este aumento da arroba do boi farão muitos produtores direcionar suas vacas leiteiras para o abate? Como este cenário impacta a produção e a cadeia leiteira?
Buscando entender melhor essa situação a equipe do MilkPoint Mercado analisou a relação de troca entre o leite e a arroba bovina. Basicamente o gráfico 1 traz a informação de quantos litros de leite são necessários para “comprar” uma arroba de boi – quanto maior o número, mais o leite estará “desvalorizado” em relação ao boi e maior a tendência de direcionamento de fêmeas leiteiras para o abate. Observando o gráfico, nos últimos meses de 2019 verifica-se o aumento da relação leite/arroba, o que poderia indicar uma maior tendência de direcionamento de vacas para o abate.
Gráfico 1. Relação de troca litros de leite/arroba de boi gordo. Fonte: ESALQ/B3 e MilkPoint Mercado.
Apesar da situação da relação de troca ter aumentando bastante nas últimas semanas/meses, ela não é extraordinária se comparada a de outros anos – 2014 e 2015 por exemplo, quando os preços da arroba bovina também atingiram patamares elevados por diferentes motivos, seja em função de uma seca severa e também da elevada demanda interna em 2014, em função da Copa do Mundo, no país do futebol. A ser ressaltado também um efeito claramente sazonal da relação de troca (no final do ano, quando o leite normalmente perde valor, a relação de troca sobe).
Pelo cenário atual do mercado de leite (gráfico 2), com preços tendendo a estabilidade em plena safra e com um cenário de recuperação econômica em 2020, não é clara uma tendência de abate radical de fêmeas produtivas – o produtor já está olhando para frente e vendo que o cenário de mercado pode melhorar em poucos meses.
Gráfico 2. Preços (R$/litro), deflacionados, pagos ao produtor de leite. Fonte: CEPEA.
No entanto, há um incentivo, no curto prazo, para descarte de vacas velhas, animais menos produtivos (muita ração, pouco leite) o que não deixa de ser positivo para cadeia leiteira, já que melhora a eficiência do sistema como um todo e racionaliza eventuais rebanhos carregados com muitas vacas secas/novilhas que se alimentam e não geram receita e poucas vacas em lactação, que sustentam a atividade do produtor.