A antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum (Glomerella cingulata), que sob condições favoráveis pode causar até 100% de danos ao feijão, sendo considerada uma doença altamente agressiva à cultura.
As condições favoráveis para o desenvolvimento da antracnose são: temperatura baixa a moderada (de 13 a 27 °C) e alta umidade (acima de 91%), por isso, pode ser mais severa em condições temperadas a subtropicais. No Brasil, esta doença ocorre principalmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, e também pode ser encontrada no Espírito Santo, Alagoas, Sergipe e Paraíba.
O sintoma da doença ocorre normalmente seis dias após a infecção e pode ser observado em toda a parte aérea da planta. Os sintomas típicos da doença são lesões necróticas de coloração marrom-escura nas nervuras na face inferior da folha (Figura 1A). Estas lesões muitas vezes podem ser identificadas também na parte superior das folhas, com halo amarelado, assim como podem estender-se ao limbo foliar, dependendo da severidade. Estas lesões também podem ser produzidas no caule, vagens e nos pecíolos. Nas vagens, as lesões iniciam como pequenas manchas e crescem gradativamente no sentido longitudinal, são circulares, deprimidas, de tamanho variável, com centro claro bordos escuros e salientes, circundado por um anel pardo-avermelhado (Figura 1B). Os sintomas nas vagens, além de diminuir o rendimento, podem causar manchas nos grãos, depreciando seu valor de mercado, (Figura 1C), podendo inviabilizá-lo para o consumo.
De forma geral, o controle de doenças fúngicas é realizado principalmente pelo uso de semente de boa qualidade fitossanitária, eliminação de restos culturais que podem servir de fonte de inóculo para novos plantios, eliminação de plantas voluntárias hospedeiras, rotação de cultura, uso de variedades resistentes e controle químico. Para antracnose, o controle não foge desta regra.
O uso de semente de boa qualidade fitossanitária é um importante controle cultural, já que existe alta transmissão do fungo da semente para a plântula. Caso a condição climática seja favorável para o desenvolvimento do patógeno, a semente infectada semeada pode ser o início de uma epidemia em uma área.
A eliminação de restos culturais e a rotação de culturas também deve ser realizada, pois o patógeno pode sobreviver em resto de feijão, podendo, este, servir como fonte de inóculo do patógeno para novos plantios. Portanto rotação de cultura por no mínimo um ano deve ser adotada com culturas não hospedeiras, como gramíneas, por exemplo.
Também deve ser dado destaque a importância de variedades resistentes ao patógeno, pois é o método mais prático e econômico. No entanto, o fungo C. lindemuthianum possui alta variabilidade e pode apresentar raças fisiológicas (GONÇALVES- VIDIGAL et al., 2008), fato este, que pode interferir na durabilidade da resistência de uma cultivar e também na eficiência do controle químico. Portanto, para o controle desta doença, devemos pensar sempre em manejo integrado, utilizando o controle genético associado ao químico.
Quanto ao controle químico Sartorato (2006) relata a alta sensibilidade de C. lindemuthianum a difenoconazole, piraclostrobina + propiconazole. Assim como relata a baixa sensibilidade ao tiofanato metílico. Já Kozlowski et al. (2009) relata que a piraclostrobina apresenta significativo controle do patógeno, além de maior rendimento de grãos, e que quando realizadas duas aplicações, pode gerar um efeito fisiológico, apresentando maior número de vagens por planta e maior taxa de aumento da área foliar. Lembrando, que conforme comentado anteriormente, a variabilidade do fungo pode diminuir a eficiência do controle do fungicida, portanto, uma técnica que não pode ser deixada de lado, neste caso, é a rotação de ingredientes ativos para diminuir o problema de resistência.
Contudo, resumindo este post, quando pensamos em manejo Antracnose em feijão: – Antracnose é uma doença frequente e que sob condições favoráveis pode inviabilizar a produção de feijão. – Deve-se sempre utilizar sementes sadias e tratadas; – Eliminar restos culturais e plantas voluntárias hospedeiras; – Fazer rotação de cultura com cultura não hospedeira; – Utilização de variedade resistente é uma medida eficiente e econômica, mas pode ser quebrada pela variabilidade do fungo; – O controle químico deve ser utilizado como parte do manejo integrado da doença, com o cuidado de ser feito a rotação de produtos para evitar resistência. |
Por: Thais Dias Martins Pongeluppi – Doutora em Ciências com ênfase em Fitopatologia. Uma apaixonada por fitossanidade que trocou o encanto da Noiva da Colina (Piracicaba) pelo brilho da Cidade Pérola, Taquaritinga, onde atualmente é professora da Faculdade Ites; possui uma empresa de consultoria em Fitossanidade; e ensina seu filho de dois anos a fazer roguing em plantas doentes em sua pequena horta caseira.