A doença na China pode aumentar o consumo de carne bovina no Brasil.
Com mais carne sendo escoada para fora do Brasil, os impactos na oferta interna do produto chegaram aos preços.
Veja no gráfico abaixo a evolução dos preços das proteínas de origem animal no mercado doméstico.
Figura 1.
Preço da carne bovina, suína e de frango no atacado em janeiro e julho de 2019, em R$/kg.
De maneira geral, as carnes possuem elevada elasticidade-preço, o que quer dizer que o consumo da população é muito sensível às variações de preços. Por exemplo, se os preços do frango sobem muito, os consumidores migram de proteína e assim por diante.
E para avaliar o estímulo ao consumo, analisamos a competitividade das proteínas pela óptica dos preços.
Considerando os valores no atacado, atualmente, com o preço de 1 kg de carne bovina, compra-se 1,28 kg de carne suína, já em janeiro comprava-se 1,82 kg. Isso quer dizer que a carne de porco perdeu competitividade frente à carne bovina.
O susto/surto
Do outro lado do mundo, uma importante mudança ocorreu no mercado de proteínas de origem animal neste ano. Mas em uma economia globalizada, qualquer mudança gera impactos no restante dos países, principalmente no Brasil, um dos maiores exportadores de alimentos no mundo.
O caso em questão foi na China, principal país consumidor e produtor de carne suína. Os chineses enfrentam uma crise sanitária da peste suína africana (PSA). A PSA é uma doença contagiosa causada por vírus que acomete os suínos. Não existe vacina nem tratamento e é altamente contagiosa entre os animais (suínos e javalis).
Disseminação pelo mundo
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mais de 4 milhões de suínos já foram eliminados por causa da contaminação com PSA. Mas, como os relatórios são constantemente atualizados, a previsão do mercado é que esse número aumente, até porque a doença começou a ser notificada em diversos países da Europa (Romênia, Ucrânia, Polônia) e da Ásia (Vietnã e Camboja).
O Brasil é considerado livre da doença desde 1984. Por aqui, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento adota políticas de importação rigorosas, para garantir que a doença não seja introduzida no país.
Déficit na China
Segundo estimativas, a produção de carne suína da China, que em 2018 foi de 54,15 milhões de toneladas, cairá 10% em função da redução do plantel de suínos, resultando no volume de 48,7 milhões de toneladas em 2019.
Considerando que, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o consumo de carne suína, em 2019, será de 56,5 milhões de toneladas, a China terá que importar 7 milhões de toneladas. Para uma comparação, em 2018, o total importado foi 1,7 milhões.
Oportunidades para o Brasil
De janeiro a junho de 2019, o Brasil exportou 343,5 milhões de toneladas de carne suína, esse volume é 25% superior ao exportado no mesmo período de 2018.
E os países nos quais a PSA está atingindo a produção de suínos foram os que mais aumentaram suas importações. Veja na figura 2 a evolução dos dez principais importadores da carne suína do Brasil.
Figura 2.
Volume exportado de carne suína brasileira em mil toneladas de janeiro a junho de 2019, por país.
As exportações brasileiras de carne suína para China subiram 129% e para o Vietnã 884%. Vale ressaltar que taxa da Rússia teve o acréscimo mais significativo, pois os embarques estavam suspensos em 2018.
A carne de frango também perdeu competitividade frente à carne bovina, mas em menor intensidade. Veja na tabela 1 essa diferença na relação de preços das proteínas em julho, frente ao começo do ano.
Tabela 1.
Relação entre os preços da carne bovina e os preços das carnes de frango e suína.
Proteína/Ano | Janeiro/2019 | Julho/2019 |
Frango Atacado | 2,43 | 2,25 |
Suíno Atacado | 1,82 | 1,28 |
Fonte: Scot Consultoria
Conclusão
Por ano, um brasileiro consome em média, aproximadamente, 38,kg de carne bovina, 46 kg de carne de frango e 15 kg de carne suína.
Por mais que o consumo de carne de porco seja o menor dentre todas as outras proteínas de origem animal, a atual competitividade da carne bovina, com a elevação do preço da proteína suína, pode ser um fator de estímulo ao consumo da carne vermelha em médio/longo prazo.
Ainda mais considerando que o déficit na produção de suínos na China pode aumentar e potencializar a importação da carne suína brasileira.