Diante de mais uma colheita recorde de grãos, pela primeira vez na história é possível que não haja estocagem suficiente nem para a primeira safra, por isso produtores precisam desde já prepararem o futuro da safrinha de milho
Entra ano e sai ano e um velho problema vem à tona: a falta de armazenagem da produção. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), se confirmada a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de uma colheita recorde de 309,89 milhões de toneladas, o Brasil poderá ter um déficit de armazenagem de 115 milhões de toneladas de grãos. Caso aconteça, será a pela primeira vez na história que não terá armazéns suficientes nem para a primeira safra.
Para o engenheiro agrônomo Lalo Malinarich, head de mercado Silox do Grupo Nortène, vários são os motivos para a recorrência desse problema, que é crônico e histórico. Um deles tem relação com a falta de planejamento da armazenagem, ou seja, o pós-colheita. “Essa ideia que precisa ser mudada, afinal, quando finaliza a colheita se inicia o trabalho de gestão, portanto, é fundamental que o agricultor acompanhe o mercado e saiba dominar os números para a comercialização, pois é a melhor forma para obter maior lucro”, diz o especialista.
Ainda segundo o engenheiro agrônomo, que reside atualmente na Argentina e tem ampla experiência com agricultura em diversos países no mundo, o agricultor brasileiro é disparado o melhor produtor, afinal, safra recorde todo ano é sinal de ganho de produtividade, nisso ninguém se compara. Por outro lado, acredita, eles pecam quando o assunto é a venda da safra. “Na minha visão há uma diferença clara entre o produtor da Argentina e o do Brasil. Se por um lado os brasileiros acreditam que o trabalho termina no dia da colheita, o argentino só finaliza o ciclo quando ele tem o dinheiro no bolso, após a venda”, cita.
Solução imediata – Os produtores que recém colheram a safra de soja já devem dar atenção para a safrinha de milho, que segue em crescimento a todo vapor. De acordo com o especialista da Nortène, este ano a previsão é que o custo da armazenagem do cereal de segunda safra estará acima de 15% do valor do produto. Ou seja, essa conta pode não fechar no azul, portanto, é necessário buscar no mercado alternativas para contornar esse déficit. Hoje, entre as soluções mais eficientes para armazenagem são os silos-bolsas que podem ser instalados em qualquer lugar da fazenda.
Com essa ferramenta ele consegue segmentar os produtos, separar por lote, por data de produção e até por qualidade do grão, até escalonar a produção. Há uma liberdade que ele não tem em relação a outras opções. Outro ponto interessante dessa tecnologia é a questão da relação custo-benefício. O investimento é muito inferior quando comparado ao do silo metálico, com prazo de entrega de algumas semanas, enquanto a maioria dos fabricantes de silo metálico trabalham com o prazo de até 400 dias devido à falta de matéria-prima.
Na Argentina, por exemplo, a cultura dos silos-bolsas é mais disseminada, isso porque os produtores locais já no início da safra programam os principais insumos, como sementes, defensivos, adubos e também o silo-bolsa, ou seja, faz parte do pacote obrigatório. “A Argentina tem uma capacidade estática similar ao Brasil, porém, cerca de 50% são em silos-bolsas, é algo que já faz parte da cultura. Eles perceberam no passado que o ‘armazenador’ ficava com o lucro, portanto, sempre que tinham a oportunidade de estocar a produção faziam para ter melhor poder de negociação”, pontua o engenheiro agrônomo.
Ainda segundo o profissional, o agricultor de modo geral precisa enxergar a fazenda como uma empresa agrícola e não somente como uma ‘unidade plantadora’. “Quem quer ganhar dinheiro e se manter na atividade precisa controlar todos os processos e o pós-colheita é um dos pontos principais”, finaliza ele.