O agro fala. Você entende!

Fortalecer o relacionamento com países produtores de fertilizantes é estratégia para garantir abastecimento no Brasil

Mercado instável, preços oscilantes e possíveis riscos de falta de produtos movimentaram o cenário internacional de fertilizantes nos últimos dois anos e se intensificaram com os crescentes conflitos entre Rússia e Ucrânia. A preocupação com o desabastecimento por parte dos produtores brasileiros é plenamente justificável quando se sabe que a Rússia é o maior fornecedor de fertilizantes para o Brasil e que a soja consome 40% do produto.

“Há uma situação crítica no mercado de fertilizantes que começou com a Covid e envolve ainda outros problemas paralelos, como o fechamento de portos, paralisação das exportações e outras questões que interromperam o fluxo de recebimento de produtos no Brasil”, explicou José Francisco da Cunha, da Tecfértil, em palestra ministrada no SolloAgro Summit, que se encerra nesta quarta-feira, dia 22 de junho, em Piracicaba, interior de São Paulo.

O Brasil ocupa o quarto lugar entre os países que mais consomem nutrientes atrás da China, Índia e Estados Unidos, com taxa de consumo aumentando significativamente. No sentido contrário está a produção, com grandes volumes concentrados em poucos países como a Rússia, por exemplo. “O agro brasileiro é exemplo mundial em fornecimento de alimentos, eficiência e sustentabilidade, mas chegou a um estado de comodidade com relação à importação de fertilizantes”, observou Cunha.

Essa dependência externa, aliada às recentes questões internacionais, colocou o Brasil em estado de alerta e, desde o ano passado, há um foco maior na discussão sobre a necessidade de aumento na produção nacional dentro do Plano Nacional de Fertilizantes. “Essa iniciativa prevê ações que podem trazer benefício a curto, médio e longo prazo, mas a ideia de que o país deve ser autossuficiente na produção de fertilizantes precisa ser deixada de lado. Temos que fortalecer o relacionamento com os países fornecedores, intensificar a diplomacia com os países produtores”, disse Cunha.

Defensivos agrícolas

Quando se fala em defensivos agrícolas, considerar as diferenças regionais para estabelecer estratégias de acesso ao produtor é fundamental para ganhar mercado neste setor, conforme aponta André Malzoni dos Santos Dias, da Spark, durante o SolloAgro Summit. “É preciso entender que os hábitos de compra são diferentes entre as regiões do país e isso implica apresentar um portfólio mais adequado a cada cliente”, frisou.

Além das disparidades regionais, há ainda que se considerar a situação geracional, ou seja, a idade do agricultor bem como o nível de educação formal. “A absorção de tecnologia está cada vez mais rápida porque houve um rejuvenescimento de quem toma a decisão de compra do produto”, disse Malzoni. “Há 7 anos havia cerca de 30% deste público com nível superior, hoje esse percentual já chega a 45% em média. É uma geração mais jovem, com mais formação acadêmica, visão de preservação e adaptação tomando as decisões no campo”.

Segundo Malzoni, o agro brasileiro não está apenas crescendo, mas mudando em escala e é preciso entender esse cenário para a melhor venda do produto. “Os comportamentos são bastante distintos para cada comprador”, destacou.

Legislação para produção de insumos

Dentro da programação do SolloAgro Summit, Marcelo Marino Santos, da Abisolo (Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal), e Amalia Piazentim Borsari, da CropLife, falaram sobre legislação para a produção de insumos. De acordo com Amalia, os bioinsumos ainda hoje são considerados produtos extraídos da natureza e que, portanto, não necessitam de regulamentação. “Estamos falando de um leque grande de produtos que envolvem microrganismos de diferentes tipos que precisam ser avaliados antes de ser disponibilizados no mercado. Não é apenas uma questão de risco, mas de eficácia também”, afirmou.

Além dos riscos na segurança, a falta de regulamentação pode trazer prejuízos ao produtor com desinformação a respeito da eficácia do produto. “Há muito desconhecimento a respeito desse assunto. Trazer esse tema para o debate é aumentar o número de multiplicadores dessa informação, esclarecer equívocos e contribuir para que haja segurança na produção”, enfatizou Amália

Capacitação profissional

O agro, em consonância com outros setores da economia, segue a tendência de exigir, cada vez mais, a qualificação dos profissionais envolvidos. “É preciso mudar o conceito do que é ser bem sucedido e eficiente. Produzir muito não necessariamente significa ser eficiente e rentável. Existe uma série de outros fatores que vão da gestão financeira, custos e suprimentos, armazenamento e estratégias de comercialização que compõem o sucesso de um produtor rural”, enfatizou o palestrante César Burjaili Braga, da Hub Talents, durante o Sollo Agro Summit.

Entre as competências comportamentais mais demandadas estão o trabalho em equipe em cooperação, sentimento de pertencimento à empresa (perfil dono do negócio), perfil de liderança, empreendedorismo, flexibilidade, vontade de fazer diferença, engajamento, comprometimento, criatividade na resolução de problemas, alinhamento de propósito, resiliência e foco nos resultados.

“As características mais desejadas de um profissional do agro são semelhantes às de outras áreas e segmentos da economia. A contribuição destes profissionais é fundamental para o sucesso do agronegócio como um todo”, salientou José Roberto Pereira Castro, da Superação Treinamento e Consultoria.

Na opinião de Paulo Fernando Machado, da Clínica do Leite, propriedades agrícolas são negócios e precisam de métodos para funcionar e atingir o objetivo final que é a geração de lucro. “Há novas formas de pensar e gerenciar empresas e é possível fazer adaptações para as propriedades agrícolas. Isso gera produtos de melhor qualidade, é mais fácil produzir e com menos desperdício, além de contar com pessoas mais engajadas em todos os processos do trabalho”, disse.

VEJA TAMBÉM