A chegada dos equipamentos a lugares isolados é marcada por manifestações emocionantes dos moradores. A maioria dessas comunidades é abastecida apenas por minas de água que desaparecem a cada veranico (período de estiagem). Com a chegada dos poços, o cenário predominado por incertezas nas pequenas vilas rurais vai se modificando. A realidade ganha novos contornos com os jatos de água que brotam do interior da terra pela primeira vez.
Em Siqueira Campos, o Distrito de Gabiroba tem 170 propriedades e 60 delas dependiam da solidariedade da técnica de enfermagem do Posto de Saúde Ana Maria de Carvalho de Moraes. A servidora explica que com o crescimento populacional e a seca que assola o Estado, a água ficou cada vez mais escassa, também na sua propriedade. A Sanepar abastece as comunidades com caminhões-pipa, mas ainda assim era preciso buscar água em locais distantes.
A enfermeira Ana relata que a equipe de perfuração chegou à comunidade como mensageira de uma nova perspectiva de vida. O primeiro jato de água que veio do subsolo foi recebido efusivamente por várias famílias que acompanhavam o trabalho.
A operação foi cercada por expectativas, pois o relevo atípico demandou cavar um poço mais profundo. Após perfurarem 280 metros a água surgiu sob os aplausos. Ela lembra que não faltaram orações e lágrimas de agradecimentos.
“Eles trabalharam no sábado o dia todo e nada da água aparecer. Só na segunda-feira, por volta das 15 horas, que começamos a ter esperança”, disse Ana. “As nossas minas supriam um pouco e foram secando. Desde que começou a seca, dependemos da Sanepar, pois a pouca chuva que caiu não resolveu. A nossa ansiedade era muito grande. E hoje agradecemos ao Governo do Estado e a toda a equipe do Instituto Água e Terra. Sem água não existe vida”, ressaltou a enfermeira.
Nem sempre a solidariedade está presente entre os moradores. Terezinha de Fátima Goes reside há 50 anos na comunidade. Ela e os vizinhos dependiam de uma mina nas imediações. Com a venda da propriedade onde estava localizada, precisavam percorrer quase 500 metros com os galões nas mãos. O novo proprietário, devido à escassez, negou o acesso à água.
“Carregávamos de um vizinho, quando secava íamos pedir para outro e rezávamos para Deus nos mandar chuva. Agora, temos o poço. No momento que deu água eu escutei a explosão lá de casa. Fiquei muito feliz. Água é tudo. Não tem como viver sem água”, disse.
Ainda em Siqueira Campos, na comunidade Água da Pedreira, os relatos também estampam a dificuldade da população com a falta de água. Ronaldo Lebedieff externa os problemas enfrentados. “Não havia água para banho e alimentação. As crianças sofriam, as criações não tinham onde beber água. Todas as famílias padeciam. Hoje, graças ao Estado, estão fazendo esse poço que vai suprir nossas necessidades”.
Ozana Ribeiro Felix, moradora há 29 anos na comunidade e proprietária de um restaurante na Vila Rural Wilson Fontanelli, lembrou com tristeza das dificuldades que estão enfrentando há muito tempo. “Esse povo sofre muito com a falta de água. Existem até brigas pelo uso daquelas minas que ainda não secaram totalmente. Espero que agora a gente possa desfrutar desse bem mais precioso que é a água”.
Raquel Trindade tem dois filhos e mora há dez anos na Vila Rural. Lembra que nos últimos três anos a vida foi difícil. “A gente tem crianças ainda pequenas e precisa buscar água longe. O sofrimento é muito grande. Agora as máquinas chegaram e a gente agradece a Deus por esse poço”, disse a mãe emocionada, enquanto acompanhava o trabalho da equipe.
Em Jesuítas, a perfuração de um poço sensibilizou a equipe que trabalhava no local. Iraci Calixto de Oliveira Ferre e Tercio Ferre moram há 40 anos na zona rural e a renda das atividades da pequena propriedade é complementada com a produção de rapadura e sorvete. Manter os animais e as duas pequenas fábricas tem sido um desafio desde que chegaram ali.
O quadro se repete com frequência. As minas secam com a chegada do calor e o uso da água precisa ser racionado. Frequentemente, falta até para cozinhar.
Quando viu a água saindo do poço recém-aberto, Iraci emocionou vizinhos e os técnicos da perfuração. “Eu vi a água subindo e chorei porque foi um milagre”, disse. “Agradeci muito a Deus e todos que trouxeram essa água. Não é fácil ficar sem, principalmente nessa pandemia. A gente sem água não é nada”, disse a pequena agricultora.
Ronye Pascoalatto é coordenador do Programa Água no Campo e vivencia tudo isso a cada perfuração. “Quando atingimos o lençol de água, onde falta para as coisas mais elementares, nos sensibilizamos. Nas pequenas comunidades rurais a mulher é que mais sofre no contexto do lar. Para nós que estamos no campo vivendo o dia a dia dessas mães de família é sempre uma grande emoção. As equipes comemoram junto”.