Estudo da INTL FCStone mostra a movimentação do mercado de commodities com a pandemia do Coronavírus (Covid-19)
A China deve retomar atividades econômicas no próximo semestre, mas avanço global do vírus prevê grande impacto no emprego e renda da população.
Com perspectivas de normalidade para o fluxo de comércio no médio prazo, tudo indica que a China está no caminho para retomar as suas atividades econômicas com maior força ao longo do próximo trimestre, foi o que apontou a INTL FCStone – Inteligência de Mercado, em relatório especial divulgado na última segunda-feira (23).
SOJA
Para a soja, apesar da epidemia de COVID-19 ter começado na China, maior importador mundial da oleaginosa, as perspectivas para as exportações brasileiras se mantêm positivas, com o registro de compras agressivas por parte do país asiático.
Fatores favoráveis à demanda do complexo de soja brasileiro
• Exportações brasileiras aquecidas, com grande procura chinesa;
• Desvalorização do real em relação ao dólar;
• Portos brasileiros funcionamento normalmente
• Esmagamento dentro da normalidade;
• Cadeia de produção de frangos e suínos sem impedimentos;
• Vendas adiantadas para as safras 2019/21 e 2020/21.
Fatores que podem impactar a demanda do complexo de soja brasileiro
• Fechamento de fronteiras;
• Desaceleração econômica mundial/chinesa.
• Registro de caso ou adoção de medidas que possam interromper atividades portuárias e do complexo de soja (esmagamento e indústria de carnes) ou a cadeia logística;
• Migração para alimentação em casa com possíveis impactos sobre o consumo de óleo de soja refinado.
MILHO
Para o milho brasileiro, o período atual não é de exportações aquecidas, com os embarques ganhando força após a colheita da safrinha. Dessa forma, mesmo que haja algum tipo de restrição nos portos, em decorrência da pandemia de COVID-19, não seria um problema relevante para o mercado nacional de milho.
Fatores favoráveis à demanda de milho brasileiro
• Cadeia de produção de frangos e suínos sem impedimentos;
• Desvalorização do real em relação ao dólar (mesmo não sendo período de exportação);
• Portos brasileiros funcionamento normalmente (mesmo não sendo período de exportação);
• Construção/projeto de novas plantas de etanol de milho;
• Vendas adiantadas para as safras 2019/21 e 2020/21.
Fatores que podem impactar a demanda de milho brasileiro
• Fechamento de fronteiras;
• Desaceleração econômica mundial;
• Registro de caso ou adoção de medidas que possam interromper atividades da indústria de carnes, plantas de etanol ou a cadeia logística;
• Queda dos preços do etanol;
• Potencial queda do consumo de combustíveis em meio a uma desaceleração econômica.
TRIGO
Na maioria dos países que adotaram o isolamento como forma de conter o avanço do coronavírus, a demanda por produtos alimentícios derivados de farinha de trigo, como pão e massas, tem aumentado, com as famílias correndo para garantir seu abastecimento durante o período de Quarentena. Diante desse cenário, nos EUA, os moinhos operam em capacidade máxima visando atender essa demanda doméstica bastante fortalecida.
Fatores favoráveis à demanda brasileira de trigo
• População intensificando compras para maiores períodos em isolamento;
• Possível tendência de aumento do consumo de cereais quando as pessoas ficam mais em casa;
• Portos brasileiros funcionamento normalmente;
• Portos argentinos ainda sem maiores impedimentos.
Fatores que podem impactar a demanda brasileira de trigo
• Impactos econômicos na renda e emprego da população;
• Intensificação das medidas de controle, afetando fluxos e impactando o funcionamento dos moinhos;
• Fechamento de fronteiras e paralisação em portos, principalmente na Argentina.
• Desvalorização do real em relação ao dólar, encarecendo as importações.
ALGODÃO
A Ásia é o principal destino da pluma brasileira. No ano anterior, a região foi responsável por 89,2% do volume exportado de algodão do Brasil. A China, maior economia da região, é também a principal parceira comercial brasileira no mercado da fibra natural. Após o início da guerra comercial sino-americana, a gigante asiática buscou outros fornecedores.
Fatores favoráveis à demanda pelo algodão brasileiro
• Exportações brasileiras aquecidas, com grande demanda asiática;
• Desvalorização do real em relação ao dólar;
• Portos brasileiros funcionamento normalmente
Fatores que podem impactar a demanda pelo algodão brasileiro
• Fechamento de fronteiras nacionais e internacionais;
• Registro de caso ou adoção de medidas que possam interromper atividades portuárias e do complexo de soja (esmagamento indústria de carnes);
• Potencial impacto negativo de uma desaceleração da economia sobre o setor têxtil e de vestuário.
PROTEÍNA
Carne bovina: O surto de COVID-19 já penalizou as exportações de carne bovina do Brasil neste início de 2020. Ainda que, neste primeiro bimestre, os embarques estejam acima da média dos últimos três anos, o volume destinado ao mercado externo recuou em relação à alta vista no final de 2019.
Carne suína e de frango: Diferente da conjuntura vista para a bovinocultura de corte, as exportações de carne suína e de frango do Brasil mantiveram-se em ritmo de alta neste início de 2020 em relação aos anos anteriores. A China, que perdeu grande parte do seu efetivo suíno em meio à PSA, enfrentou dificuldades em recuperar a sua produção animal com o avanço do surto de COVID-19, cujos impactos penalizaram o abastecimento de granjas. Vale ressaltar que, o fechamento de restaurantes favoreceu, de certo modo, a suinocultura, por ser a proteína preferida pelos chineses na alimentação domiciliar.
CAFÉ
As perspectivas para exportações de café, principalmente arábica, devem ser impactadas no próximo trimestre. Ao passo que aparentemente o pico de novos casos diários do COVID-19 já tenha passado na China, os principais mercados consumidores do café brasileiro, Estados Unidos e Europa, se encontram atualmente no auge da crise.
AÇÚCAR
Sob a ótica da demanda, é possível que o crescimento da procura por açúcar estimado para 2020 seja mais brando, dadas as perspectivas de desaceleração da economia global. Ainda assim, é preciso destacar que o COVID-19 não parece ter afetado os embarques de açúcar nas últimas semanas – especialmente a partir do porto de Santos, o principal hub de escoamento da commodity.
ETANOL
Em meio à conjuntura atual, os holofotes também precisam ser direcionados ao etanol. Sob a ótica das exportações brasileiras, a rápida disseminação do vírus pode suprimir a demanda pelo biocombustível nacional, sobretudo nos mercados asiáticos, com destaque para a Coréia
do Sul. No último ano, por exemplo, as vendas de etanol para este país representaram 25,6% do total externalizado pelo Brasil.