O agro fala. Você entende!

Dólar vai parar de cair, mas previsões para a moeda em 2022 assustam

dólar vem caindo nas últimas semanas, chegando a descer abaixo dos R$ 4,80. Então passou a subir, acima dos R$ 5. E agora voltou a ceder diariamente, rompendo o piso dos R$ 4,75. Em meio a essa trajetória frenética de altas e baixas, o que se pode esperar da moeda americana, em meio a um cenário macro conturbado, que inclui  escalada das taxas de juros, inflação global e guerra no leste europeu, com impacto nos preços da commodities?

A perspectiva da trajetória do dólar é nebulosa. Não aposte em um longo período de queda, nem numa alta repentina que leve a divisa às alturas — acima dos R$ 6, por exemplo. A tendência do dólar para 2022 foi atualizada. Espere por um sobe e desce de espantar e arrepiar o mais experiente dos investidores. De acordo com o economista-chefe da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Reinaldo Cafeo, a palavra-chave relacionada ao dólar até o final de 2022 é volatilidade — e põe volatilidade nisso.

“O que vai caracterizar a oscilação do dólar é uma trajetória de sobressaltos. Nós temos em curso uma mudança na política monetária no mundo todo, de uma política monetária frouxa, [vinda] por causa da pandemia”, afirma o economista.

Apesar da recuperação no primeiro trimestre de 2022, a desvalorização do dólar foi, na venda, de 15,10%. A moeda fechou o período avaliada em R$ 4,7378, de acordo com levantamento da Economatica divulgado em abril.

O dólar à vista emendou nesta sexta-feira, 27, o terceiro pregão consecutivo de queda: rompeu o piso de R$ 4,75 e encerrou a semana, marcada por retorno mais forte do apetite ao risco no exterior, com desvalorização de 2,79%. No fim do dia, o dólar recuava 0,49%, cotado a R$ 4,7382. Com isso, a moeda fechou a semana com baixa de 2,79%, após ter perdido 3,63% na semana passada. Em maio, o dólar acumula desvalorização de 4,14%. No ano, perde 15,02%.

Perto do último mês do segundo trimestre de 2022, o dólar caiu na semana. Está abaixo de R$ 4,75. Mas a moeda, que vem oscilando em maio e chegou a subir acima de R$ 5, enfrenta uma nova pressão altista.

A valorização da moeda ante o real ocorreu devido a uma série de fatores, como:

  • Inflação doméstica vindo acima das expectativas;
  • Inflação global forte;
  • Possível aceleração no ciclo de aumento de juros nos EUA;
  • Novo lockdown na China;
  • Continuação do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Entre esses motivos o maior “vilão” para a nova alta foi o posicionamento mais hawkish do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Uma abordagem mais dura na política monetária americana — é importante dizer — tem seus motivos. O principal, no caso, foi a inflação global alta. “No momento que iriamos observar uma queda da inflação, com diminuição de velocidade do aumento, veio o conflito entre Rússia e Ucrânia. O que se imaginava era um conflito de curta duração. Mas não ocorreu, o que muda toda a perspectiva”, diz Reinaldo.

Como consequência, houve grande oscilação nos preços de commodities no mundo inteiro, principalmente nas metálicas e no petróleo. Resumidamente, com a inflação mais presente, o caminho era apertar a política monetária. “Enquanto a diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos estiver favorável para o Brasil, teremos a entrada de dólares no país com investidores buscando a renda fixa. [Além disso] a nossa Bolsa está barata. Temos por isso uma entrada de recursos no Brasil em busca dessa taxa de juros”, explicou.

Mas, com alta na taxa de juros básica americana — e a ata do Fed confirmou essa tendência na última quarta (25) –, o que se espera é uma diminuição de entrada de fluxo estrangeiro em solo brasileiro. “A aversão ao risco aumentando e a taxa de juros americana subindo fazem com que investidores saiam de economias mais fracas e coloquem o seu dinheiro nos EUA. Isso é chamado de ‘fly to quality‘, quando os recursos saem de ativos mais arriscados e vão para segurança, que é a taxa de juros americana”, disse Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.

O que esperar do dólar até o final de 2022?

Com todas as cartas na mesa posicionadas, o que uma bola de cristal mostraria para o dólar, mesmo no curto prazo, é que há baixa visibilidade do futuro, com o mercado financeiro em intenso debate sobre a questão.

“Temos visto agentes de mercado falando de um ciclo forte de commodities, que pode fortalecer o real contra o dólar no médio prazo”, destacou Rafael. “No entanto, no curto prazo, o mercado ainda vê o dólar se valorizando contra as outras moedas com o ciclo de alta de juros da economia americana.” Ou seja, só dá para viver um dia de cada vez.

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, acredita que haverá mais queda no curto prazo, com a diferença ainda gigante entre os juros americanos e os brasileiros.

“O Brasil subiu os juros antecipadamente nesse processo. A nossa balança de exportação é favorável com o aumento do petróleo e a alta das commodities no setor internacional – ou seja, a tendência é de que se entre mais dinheiro”, ressaltou Jansen.

Na opinião do fundador da Fatorial Investimentos, a tendência do dólar pode mudar, sim, com uma subida de juros dos EUA mais rápido, “que está precificado, e um processo de mudança estrutural de uma recessão mais forte”.

Ele lembra ainda que outra questão que pode acentuar a queda do dólar é o processo de privatização da Eletrobras (ELET3), que resulta na entrada de novos investimentos diretos.

Jansen também argumenta que pode entrar mais capital estrangeiro no país. A maior apreciação do real perante o dólar pode isenção de títulos privados para o Imposto de Renda. “Lembrando que apenas título publico no Brasil é isento de IR previsto pelo estrangeiro, então a gente teria essa entrada adicional de fluxo”, disse.

Os analistas concordam em um ponto comum, ainda indefinido, para uma possível alta do dólar: as eleições presidenciais de 2022.

“Essa eleição mexe com o ânimo com os investidores. Tudo está apontando para uma polarização. Vai depender de quem está na frente, qual o modelo econômico a ser discutido. Então, não dá pra estabelecer tendência. O câmbio no Brasil deve se comportar assim: alternar períodos de alta, com os de baixa”, disse Reinaldo.

No fechamento desta sexta-feira (27), o dólar ficou em queda de 0,48%, a R$ 4,7381.

VEJA TAMBÉM