Entidade vê avanço de 9,4% em 2021, e de 3% a 5% em 2022
Mesmo com o baque sofrido pela agropecuária no terceiro trimestre deste ano, reflexo dos problemas climáticos nas lavouras, as expectativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) são de crescimento para o agronegócio nacional em 2021 e 2022 – mas com desaceleração -, e de manutenção dos preços dos produtos do campo ainda em elevado patamar.
Segundo projeções da entidade divulgadas ontem, o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária crescerá 1,8% este ano.
Para 2022, a estimativa é de avanço de 2,4%. Já o Valor Bruto da Produção (VBP) deverá aumentar 4,2% no ano que vem, puxado pelas colheitas mais fartas de café, milho e trigo e pelos preços elevados de cana e algodão.
Para o PIB do agronegócio, que envolve toda a cadeia antes e depois da porteira, a estimativa da CNA é de crescimento de 9,4% em 2021 – número considerado alto, dada a elevação de 24,3% em 2020 -, mas também influenciado pelo peso do aumento de custos de produção com insumos e serviços. Em 2022, a previsão é de avanço de 3% a 5%, em meio às incertezas no cenário econômico. As exportações deverão se manter aquecidas, com a China como principal destino mesmo que o embargo à carne bovina brasileira perdure.
“Não foi o ano que esperávamos, mas foi razoável”, disse o presidente da CNA, João Martins. A frustração foi motivada pelo clima, que limitou a colheita de grãos. Ele também lamentou as críticas aos produtores por causa dos preços dos alimentos e manteve o otimismo de que o país alcançará uma produção de grãos da ordem de 300 milhões de toneladas em até três anos. A previsão para este ciclo (2021/22) é atingir 289,8 milhões de toneladas.
“O povo tem que saber que não existe processo especulativo por parte do produtor rural, que ele não determina o preço”, afirmou.
O diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi, acredita que o último trimestre deste ano já deverá apresentar números mais satisfatórios para o campo. O clima deve favorecer, apesar das preocupações no Rio Grande do Sul e no oeste do Paraná com os efeitos já sentidos da terceira safra consecutiva de La Niña.
A principal preocupação para 2022 são os custos de produção, que devem ser os maiores da história, puxados pelos aumentos nos preços dos insumos, como fertilizantes, defensivos, combustíveis e até do crédito rural, que ficará mais caro com a elevação dos juros. Para culturas como soja, milho e café, o incremento tende a ultrapassar 60%. Com isso, a margem de lucro será achatada, mas não a ponto de tirar a rentabilidade dos produtores, acredita a CNA.
“Certamente teremos redução de margem”, disse Lucchi. Cada produtor terá que traçar estratégias para aproveitar as janelas para a compra de insumos e a venda da produção com rentabilidade, de olho no câmbio, no clima e até no possível recrudescimento da pandemia.
O desafio já será maior no plantio da segunda safra nos próximos meses, uma vez que os produtores ainda não compraram todos os insumos necessários. Muitos devem rever as análises de solo para calibrar a adubação, mas não há possibilidade de falta de fertilizantes ou defensivos no campo, disse a CNA. A importação de adubos pelo Brasil, por exemplo, deverá 16% neste ano.
“A preocupação maior é com a safra 2022/23. Muitos produtores costumavam travar as compras e vão ter que acompanhar melhor para não ter problema de custo de produção”, acrescentou o diretor.
Sem solução de curto prazo, a entidade defende incentivos à indústria de fertilizantes para expandir a produção doméstica. No caso dos defensivos, a aposta é em um projeto de lei para permitir a importação direta de agrotóxicos de países do Mercosul, onde estão mais baratos.
A CNA acredita que as commodities agropecuárias terão mais um ciclo de alta devido ao crescimento da demanda mundial, à retomada econômica e ao baixo volume de estoques globais. “Grãos e carnes terão mais um ano de preços altos. Será mais um ano para o produtor trabalhar com preços melhores, mas o desafio é o custo”, ponderou Lucchi.