Com início de plantio conturbado, por causa do alongamento da safra de soja, poucas áreas de milho segunda safra conseguiram iniciar a colheita nesses primeiros dias de junho, caso de algumas regiões do Mato Grosso e Paraná. Boa parte do plantio foi realizado em março, período considerado fora da janela ideal para boa parte das regiões produtoras. Além disso, o clima mais seco nos últimos meses impactou o desenvolvimento das lavouras de milho. Por isso, importantes polos produtores de milho segunda safra como Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais devem registrar baixos índices de produtividade e, consequentemente, quebra de safra em diversas áreas.
De acordo com o trabalho de sensoriamento remoto realizado diariamente pela Geosys Brasil com uso de dados de satélites, mesmo que haja boa precipitação nos próximos dias, o baixo volume de chuvas nos últimos meses já impactou negativamente as lavouras de milho. No momento, a estimativa da Geosys Brasil é de que a produção nacional atinja 94,15 milhões de toneladas nesta safra, volume 7,8% inferior ao estimado pela empresa no início do ano.
A situação de alerta, e a que mais preocupa, se encontra no Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, onde as quebras devem ser maiores. Em Goiás e no Mato Grosso, por exemplo, a baixa produtividade deverá ocorrer em determinadas regiões, por causa da falta de chuva.
“No Paraná, o índice de vegetação ficou em patamar baixo durante todo o ciclo do milho safrinha, devido à forte seca dos últimos meses que manteve a umidade do solo em um nível extremamente reduzido por um longo tempo. Com isso, a dúvida não é “se” haverá, mas sim de quanto será a perda da produtividade no estado. Mesmo as boas chuvas dos últimos dias em algumas regiões do estado não devem ser suficientes para recuperar as lavouras.”, aponta Felippe Reis, analista de cultura da Geosys.
Além da forte seca no estado, a cidade de Cascavel, no Oeste do Paraná, registrou a ocorrência de geada no fim de maio com temperatura mínima de 6,5°C. Logo na sequência, as plantas apresentaram deterioração, o que pode ser explicado não apenas pela seca, como também pela geada. A estimativa da Geosys Brasil é de que a produção do Paraná seja de 8,55 milhões de toneladas de milho segunda safra, com a menor produtividade dos últimos onze anos.
No Mato Grosso do Sul, a situação de baixa produtividade também preocupa. Na região sul do Estado, onde se localizam os municípios de Dourados e Maracaju, por exemplo, o índice de vegetação teve deterioração nos últimos dias, mesmo com a maior precipitação nas últimas semanas. “A umidade do solo tem aumentado desde os últimos dez dias de maio, porém, parece ter sido tarde demais para que houvesse uma recuperação das lavouras, fortemente afetadas pela seca nas semanas anteriores”, explica Felippe.
Considerando os meses de abril e maio, o balanço hídrico teve o maior déficit dos últimos anos, fato que explica a baixa umidade do solo e, consequentemente, o desenvolvimento ruim das lavouras. No estado é possível que a produtividade seja a menor da década. Atualmente, a estimativa da Geosys é de que a produção no Mato Grosso do Sul seja de 6,96 milhões de toneladas.
Em Minas Gerais, a seca teve um forte impacto nas lavouras da região do Triângulo Mineiro, onde estão os municípios de Uberlândia, Uberaba e Campina Verde. A evolução do índice de vigor das plantas (NDVI) evidencia uma temporada com produtividade ruim, resultando em quebra de safra. Após o início tardio do ciclo do milho safrinha, a baixa precipitação limitou o desenvolvimento das lavouras. A estimativa da Geosys Brasil é de que em Minas Gerais, a produção de milho na safra de inverno seja de 1,96 milhão de toneladas.
Já o sul de Goiás registrou a seca mais severa, apesar do índice de vegetação ter apresentado boa dinâmica nos últimos dias, em linha com o aumento da umidade do solo. No entanto, a recuperação veio tarde e é provável que este movimento tenha apenas amenizado a situação ruim das lavouras que sofreram com a forte seca nos últimos meses. Com o milho safrinha no terço final de seu ciclo, a quebra da safra já é dada como certa.
Nas demais regiões do estado, o índice de vegetação está em patamar inferior ao das últimas quatro temporadas, o que indica que a produtividade deve ser pior – porém, em nível bem superior do que a safra 2015/16, ano de quebra de safra. A estimativa de milho safrinha da Geosys Brasil para Goiás está em 8,83 milhões de toneladas.
No Mato Grosso, em algumas regiões do nordeste do estado, entre as cidades de Barra do Garças e Água Boa, por exemplo, o índice de vegetação está no menor patamar das últimas temporadas. Apenas em 2016 (ano em que houve forte seca) o NDVI teve desempenho pior. A umidade do solo registrou baixo índice durante boa parte do desenvolvimento das lavouras, o que explica a queda no índice de vegetação. Mesmo com a melhora da umidade do solo nas últimas semanas, o NDVI continua em patamar mais baixo em relação aos últimos quatro anos. A seca nessa região deve resultar em quebra de safra, uma vez que o ciclo do milho safrinha encontra-se em seu terço final e dificilmente haverá tempo para recuperação das lavouras.
Já no coração da produção de milho safrinha do Mato Grosso, entre as cidades de Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop e Nova Mutum (região da BR-163, norte do estado), o índice de vegetação está em patamar satisfatório e, embora tenha tido um início desfavorável, devido ao atraso do plantio, o atual nível do NDVI sugere que a produção não deverá ser tão decepcionante. A umidade do solo ficou dentro da média durante boa parte de abril e maio, o que sustentou o desenvolvimento das lavouras na região. Atualmente, a estimativa da Geosys Brasil para a produção de milho safrinha no Mato Grosso está em 33,51 milhões de toneladas.