Essas perspectivas de que a soja e o milho continuem com os preços nas alturas provocam um vendaval turbulento às cadeias de proteínas animais. Isso porque os grãos têm um peso decisivo na produção da pecuária. Segundo a Embrapa, a nutrição corresponde a 78% dos custos na suinocultura e a 72%, na avicultura. Na bovinocultura, o impacto é menor, mas também significativo: corresponde a um terço dos custos totais nas principais praças, de acordo com o projeto Campo Futuro – realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em parceria com a FAEP.
Os ventos só não provocaram estragos nessas cadeias produtivas, porque as carnes também se beneficiam de uma conjuntura internacional favorável. Neste ano, por exemplo, a voracidade da China também se voltou às proteínas animais. De janeiro a setembro, o volume das exportações paranaenses de produtos do complexo carnes para os chineses aumentou 35%, totalizando 236 mil toneladas e US$ 479 milhões.
No mercado interno, os preços das proteínas animais também se mantiveram aquecidos. Desde janeiro, a arroba do boi e o quilo do frango congelado subiram 44% e 27% respectivamente, segundo o Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP). No caso do suíno vivo, a alta foi ainda maior: 77,6%. O mercado de lácteos no Paraná também vive um bom momento, com o preço de referência do leite chegando em setembro ao maior patamar da história. Em síntese, essa valorização generalizada compensou o que os pecuaristas e/ou empresas – no caso dos produtores integrados – desembolsaram a mais para cobrir os custos de produção.
O xis da questão é: com os grãos em alta, até quando o mercado vai ter fôlego para sustentar também os preços das proteínas animais? Para os especialistas, essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Mas o momento é de cautela e de ficar de olho nos desdobramentos, como o poder de consumo do mercado interno.
“Nós não temos dimensão de até quando isso vai se sustentar. Não conseguimos saber até que ponto o pecuarista vai conseguir cobrir seus custos de produção com as receitas. Vai depender muito da força do mercado consumidor, que ainda está em um horizonte de pandemia”, analisa Ferreira.
“Temos que ver os efeitos do novo valor do auxílio emergencial do governo federal. Depende muito de como vão ser os ajustes de demanda interna. O cenário ainda é muito incerto. Não dá para prever se o consumo interno vai se manter no nível que tivemos até agora”, observa Ana Paula.