Avicultura: indústria absorve custos, mas pode reduzir alojamentos
Na avicultura – que opera em regime de integração, no Paraná –, as agroindústrias têm absorvido o aumento dos custos de produção. Presidente da Comissão de Avicultura da FAEP, Carlos Bonfim aponta, no entanto, que os avicultores paranaenses têm acompanhado com apreensão as altas contínuas nos preços da soja e do milho. A preocupação é de que, no médio prazo, as empresas venham a reduzir a escala de produção, o que implicaria na perda de ganho por parte do produtor.
“No sistema integrado, a empresa não repassa essa alta dos custos. O produtor não sente a volatilidade, mas a gente vê com preocupação, com medo do que possa acontecer logo ali na frente. A gente não sabe quanto tempo essas empresas aguentam”, aponta Bonfim.
Ao analisar os elementos dispostos, hoje, no tabuleiro, a técnica Mariana Assolari, do Departamento Técnico (Detec) do Sistema FAEP/SENAR-PR, que acompanha a cadeia da avicultura, aponta que as perspectivas de tendência de alta dos preços dos grãos já afetaram o setor, com tendência de que, a partir do ano que vem, as agroindústrias comecem a reduzir o alojamento de aves, de olho no comportamento do mercado.
“A avicultura é um setor muito ajustado. As empresas alojam de acordo com as projeções de demanda”, diz Mariana. “Quando há uma alteração em grãos, há um impacto direto em todas as cadeias produtoras de carne. No caso de frangos, isso é muito evidente”, completa.
Em recente entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, confirmou que deve haver um ajuste, com a redução de alojamento. O dirigente calcula que pode, com um eventual corte na produção entre 5% e 10%, a demanda interna por grãos diminuiria em 1,4 milhão de toneladas até a metade de 2021.
Mudança na ração
Na região de Cianorte, no Noroeste do Paraná, produtores relatam um fator que pode estar relacionado à alta dos grãos. Segundo os avicultores, a qualidade da ração fornecida pela agroindústria piorou nos últimos meses. Como resultado disso, os animais têm custado a ganhar peso. A meta é de que os pintainhos cheguem ao sétimo dia de vida pesando entre 185 e 200 gramas. Entretanto, em sete dias, as aves têm chegado, em média, a 140 gramas (25% menos), de acordo com relatos compilados pela Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec) local, afetando os rendimentos dos avicultores.
“O avicultor precisa de condições para atingir as metas definidas pela integradora. E esse peso é definido com base em ração de boa qualidade. Se a indústria não colocar uma ração de boa qualidade, o animal não vai responder de acordo”, ressalta o presidente da Cadec de Cianorte, Dienner Santana. “Em regiões vizinhas, temos relatos de que o resultado pago já tem diminuído”, acrescenta. Ele também aponta que o índice de mortalidade dos animais aumentou consideravelmente.
Mariana Assolari destaca que a Lei de Integração prevê que o produtor – representado pela Cadec – acompanhe e valide a qualidade dos insumos – entre eles, a ração – fornecidos pelas agroindústrias, mas que ainda não foram criados mecanismos para que isso aconteça na prática. “O produtor não está envolvido neste processo, mas, em razão dos custos, é provável que a indústria tenha alterado a composição da ração, não só quantidade e qualidade dos grãos na formulação, mas também o premix, muitas vezes composto por ingredientes importados. O que as empresas tendem a fazer daqui para a frente é procurar um ponto de equilíbrio”, avalia.