Quando a palavra é javali o sinônimo é problema para o produtor rural. A espécie Sus scrofa é nativa da Europa e chegou ao Brasil no início do século XX com os próprios pés, fugindo de criações na Argentina. Sua expectativa de vida em estado selvagem gira em torno de 2 a 10 anos e o predador natural é o lobo-cinzento, que não existe no Brasil.
O javali tem capacidade de destruir plantações inteiras, com potencial de gerar prejuízos de até R$ 50 milhões de acordo com estudo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A praga exótica ainda tem a companhia de outros vilões da lavoura como queixada, capivara, lebre e aves.
As formas de evitar ataques de animais silvestres e exóticos nas lavouras de todo o país foram tema de um debate promovido pela Belgo Bekaert nesta quinta-feira (25), com a participação de Gonzalo Barquero, presidente do Tropical Sustainability Institute (TSI) e diretor da Manejo de Fauna e Guilherme Vianna, médico veterinário e gerente de negócios da Belgo.
Estima-se que existam cerca de 12.565 animais invasivos no mundo. E no Brasil algumas espécies têm potencial para estragos. Em São Paulo e Minas Gerais há problemas sérios com capivara em milho e cana; queixada no Centro- Oeste é um vilão para o milho; lebres são problema para hortaliças; aves como maritacas e pombas também causam estragos mas o protagonista é o javali, considerado uma das cem espécies invasoras mais prejudiciais do mundo seja em dano ambiental, na lavoura e transmissão de doenças aos suínos. “Antes da gente chegar eles já estavam aqui e temos que aprender a conviver. Da década de 70 pra cá entrou o javali. Para um animal exótico entrar precisa de alimento, água e abrigo e aí se reproduz e causa o desequilíbrio. Aqui encontrou o ambiente ideal e a agricultura trouxe mais alimentos por hectare”, diz Vianna.
Barquero destaca o potencial de destruição do queixada (Tayassu pecari). No Centro-Oeste foram R$ 15 milhões em prejuízos só em milho safrinha na safra passada. Alguns híbridos são muito atraentes para a espécie e o manejo do animal silvestre barra em legislação. “Não existe manejo sem pesquisa. Para o animal silvestre essa pesquisa tm que ser feita na prática. O objetivo não é erradicar e sim equilibrar. Buscamos uma legislação onde o agricultor tenha amparo técnico e legal para manejar”, explica.
Como vencer essa briga
No Brasil já existem 44.408 registros ativos de “controladores” autorizados a capturar e abater javalis. Pelo menos 563 municípios brasileiros já foram oficialmente afetados pelo javali.
O javali é o único animal que tem caça permitida em todo território nacional pelo IBAMA, com uma Instrução Normativa de 2013, que abre brecha na legislação de 1967 que proíbe a caça de animais silvestres no Brasil. Outra legislação de 2019 regulamenta que cães de caça envolvidos no controle do javali devem portar colete peitoral com identificação e seus responsáveis precisam carregar um atestado de saúde emitido por médico veterinário, além da carteira de vacinação do cão. O animal pode ser captura ou abatido com tiro ou arma branca.
Um mal chamado javali
“O animal exótico deve ser erradicado. A caça é permitida mas ainda há discussão se deve fazer ou não, se pode usar cães na caça pelo bem-estar animal e ainda precisa evoluir em nível técnico. Não é só um problema ambiental mas pra agricultura, doenças para animais e pessoas”, destaca Barquero.
Outras formas já estão em teste no Brasil. Pode ser feito cercamento de áreas, eletrificação de cercas e valas como barreiras naturais. Outra ideia é bioexclusão, que consiste em separar os animais de produção dos que geram prejuízos, fazer o cercamento com tela. “Já que esses animais são comedores de grãos além do tiro o uso de cercas elétricas traz bons resultados. Deixar ele em áreas inutilizadas para agricultura e todos convivem em harmonia. Vamos desenvolver tecnologias nacionais, adequadas as necessidades da agricultura brasileira porque o produtor é racional e sustentável mas quem paga a conta dos prejuízos na lavoura?” finaliza Vianna.