A soja que hoje cultivamos é muito diferente dos seus ancestrais, que eram plantas rasteiras que se desenvolviam na costa leste da Ásia, especialmente ao longo do Rio Yangtse, na China.
Registros apontam para a primeira referência à soja como alimento há mais de 5.000 anos. O grão foi citado e descrito pelo imperador chinês Shen-nung, considerado o “pai” da agricultura chinesa, iniciando assim ao cultivo de grãos como alternativa ao abate de animais.
A soja era considerada um grão sagrado, ao lado do arroz, do trigo, da cevada e do milheto, inclusive com realização de cerimoniais ritualísticos na época da semeadura e da colheita.
Outro indicativo que atesta a importância cultural, nutricional e econômica da soja para os chineses, é o fato do grão ser utilizado como matéria-prima essencial para a produção do tradicional tofu, uma espécie de queijo de leite de soja coalhado. Além disso, a soja era uma espécie de moeda, porque era vendida à vista ou trocada por outras mercadorias.
Por milhares de anos, a soja ficou restrita à China. Apesar de ser conhecida e consumida pela civilização oriental por muito tempo, só foi introduzida na Europa no final do século XV, como curiosidade, nos jardins botânicos da Inglaterra, França e Alemanha.
Na segunda década do século XX, o teor de óleo e proteína do grão despertou o interesse pelas indústrias em todo o mundo, porém, as tentativas de introdução comercial do cultivo do grão na Rússia, Inglaterra e Alemanha fracassaram devido às condições climáticas desfavoráveis.
Após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1919, o grão de soja tornou-se um importante produto de comércio exterior. Em 1921 a consolidação da cadeia produtiva da soja se deu com a fundação da American Soybean Association – ASA (Associação Americana de Soja).
A história da soja no Brasil
No Brasil, a soja chegou por volta de 1882. Os primeiros estudos com a cultura no país foi o professor Gustavo Dutra, da Bahia (Escola de Agronomia da Bahia).
Dez anos mais tarde, em 1892, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), iniciou estudos para obtenção de cultivares ideais para a região. O interesse pela cultura não era pelo seu grão, mas pelo uso da planta como uma espécie a ser utilizada como forrageira e na rotação de culturas. Os grãos eram administrados aos animais uma vez que ainda não existia industrialização.
Em 1914, é oficialmente introduzida no Rio Grande do Sul – estado que apresenta condições climáticas similares às das regiões produtoras nos Estados Unidos (origem dos primeiros cultivares, até 1975).
A expansão da soja no Brasil começou nos anos 1970, quando a indústria de óleo iniciava sua ampliação. O aumento da demanda internacional pelo grão foi outro fator importante que contribui para o início dos trabalhos comerciais e em grande escala da sojicultura.
O desenvolvimento de novas tecnologias e pesquisas focadas no atendimento da demanda externa, impulsionaram a ampliação de soja pelo país. A dedicação à cultura foi tanta, que na década de 70 a soja já era a principal cultura do agronegócio nacional.
Em nove anos (1970 – 1979) a produção passou de 1,5 milhão de toneladas para mais de 15 milhões de toneladas. Os índices de produtividade nesse período saíram do patamar de 1,14 t/ha para 1,73 t/ha.
Destaque no cerrado brasileiro
No final da década de 70, menos de 2% da produção nacional de soja era colhida na região do cerrado. Já nas décadas de 80 e 90, a cultura teve um forte crescimento no Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Maranhão (sul), Tocantins, Piauí e oeste da Bahia. O percentual passou de 20% (1980) para 60% da produção nacional em 2003.
O processo de consolidação da cultura da soja no Brasil foi fundamental para o desenvolvimento de toda uma cadeia produtiva, incluindo investimentos privados e públicos em estruturas de armazenagem, unidades de processamento do grão e modais para transporte e exportação da soja e seus derivados.
Por: Ralph Wagner Marek, Engenheiro de Produção Agroindustrial, Gestor de Conteúdo.
Fontes: Embrapa, Aprosoja, Agrolink.