A mesma estabilidade que marca a entrada da semana no mercado internacional da soja, deve marcar também o início com os negócios da oleaginosa no Brasil. No país, os participantes do mercado também seguem atentos aos impactos da assinatura da “Fase 1” do acordo comercial entre China e Estados Unidos, marcada para esta semana. As cláusulas e os volumes negociados para este acordo ainda são incertos e devem ser anunciados nesta quarta-feira, dia 15. As expectativas das autoridades americanas é que a China compre entre US$ 40 e US$ 50 bilhões de produtos agrícolas.
Os produtores brasileiros se mostram mais retraídos na venda agora, depois de realizarem boas negociações ao fim do ano passado. As perspectivas são preços melhores em breve. já que o dólar mantém um patamar acima dos R$ 4 e a escassez de oferta frente a manutenção da demanda, tanto interna quanto externa, devem trazer a possibilidade de boas remunerações.
“Como a safra foi plantada em duas semanas, em média, de atraso, a colheita deve ficar mais para a virada de janeiro para fevereiro. As áreas de colheita agora são de lavouras afetadas pela seca no Paraná, o que antecipou os trabalhos no campo. Como temos pouca soja para ser negociada no mercado, ele deve se manter firme no interno e calmo nos portos, diz o analista Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
A combinação entre as adversidades climáticas e um bom percentual de comprometimento da safra 19/20 faz com que os produtores fiquem ainda mais reticentes. Para Mário Mariano, analista de mercado da Novo Rumo Corretora, esta pode ser, de fato, uma boa estratégia.
“Os problemas climáticos são muito regionalizados neste momento, particularmente não concordo com os números recentes de estimativas para esta safra. No entanto, sem saber qual será o tamanho de sua colheita, o produtor considera que não é um momento de venda antecipada , já que coloca na balança as variações na Bolsa e os prêmios para a exportação, explica o analista.
Ainda segundo Mário Mariano, a escassez de soja pela qual passa o Brasil, mais as incertezas que ainda persistem, serão o combustível para a criação de um cenário com preços melhores. Além disso, em estados como o Mato Grosso, 60% da safra já está comprometida, o que deixa o produtor ainda mais retraído.
“O produtor já tem uma estratégia definida e só devem voltas às vendas quando a colheita estiver em sua fase final ou após a instalação da segunda safra”, disse. Dessa forma, o mercado dependerá das informações que irão chegar de agora em diante, sejam brasileiras ou americanas, sobre os principais fatores que formam os preços neste momento.
Segundo informações do Cepea, mesmo com o início da colheita da soja no Centro-Oeste e no Sul do Brasil, os produtores brasileiros começam o ano cautelosos nas vendas. Muitos estão com as atenções voltadas ao cumprimento de contrato a termo, aos trabalhos de campo e ao desenvolvimento das lavouras.
Os produtores consultados pelo Cepea confirmam que estão preocupados com o possível atraso na colheita e com a qualidade das lavouras, devido ao clima irregular durante o desenvolvimento, o que pode, inclusive, reduzir a produtividade. Além disso, o dólar em alto patamar também reforça a retração vendedora, tendo em vista que mantêm os preços domésticos.
Em relatório divulgado pela consultoria Ag Rural, a colheita da safra de soja 2019/20 alcançou, na última quinta-feira (9), 0,4% da área cultivada no Brasil, ou seja, há um atraso em comparação com o mesmo período do ano passado, em que a colheita estava em 2,1% da área, e ante a média dos cinco anos anteriores, de 0,7%. A princípio, a maior parte da área colhida está no Mato grosso, com áreas pontuais também no Paraná.
A AgRural elevou, na semana passada, a estimativa para a produção de soja do País na safra 2019/20. A projeção subiu de 122,2 milhões de toneladas para 123,9 milhões de toneladas. O aumento se deve, de acordo com a consultoria, à expectativa de maior produtividade em diversos Estados, especialmente Paraná e Goiás. Já no Rio Grande do Sul e na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), foram feitos cortes “devido ao tempo quente e seco de dezembro”.
Preços da soja devem subir mais nas próximas semanas, prevê Fitch Solutions
Os preços da soja devem continuar em alta nas próximas semanas, estima a consultoria Fitch Solutions – braço de pesquisa da agência de rating Fitch. Mas, mesmo com tendência altista, a consultoria prevê que os contratos futuros da oleaginosa negociados na Bolsa de Chicago (CBOT) tendem a continuar abaixo da resistência de US$ 10,00 por bushel.
“Além de questões de longa duração, como a disputa comercial entre Estados Unidos, a epidemia de peste suína africana e o menor volume de esmagamento da oleaginosa, surgiram preocupações geopolíticas mais agudas que poderiam pesar sobre ativos de risco”, observa a Fitch Solutions.
A consultoria pondera, contudo, que a seca contínua na América do Sul em período de início da colheita e os indicadores técnicos que ainda apontam saldo vendido podem contribuir para impulso pontual das cotações.
Na última sessão, os contratos da soja terminaram em alta puxados pela expectativa de que o acordo entre Estados Unidos e China possa ser assinado na próxima quarta-feira, 15.
O vencimento março ganhou 2,50 cents (0,26%) e fechou em US$ 9,46 por bushel.