Com o fim do vazio sanitário no Paraná, produtores já deram início a safra 2019/2020. Mas esta temporada vem com preocupações sobre o clima, volatilidade do dólar e demanda internacional. Para mantê-los bem informados, separamos análises e previsões. Confira!
1. Clima
A expectativa da Somar Meteorologia é que as chuvas retornem ao Centro-Oeste no fim de setembro. Apesar disso, a precipitação não deve acontecer de maneira generalizada, ficando restrita a algumas áreas agrícolas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
“É preciso ter extrema cautela com essa informação, pois os modelos de previsão indicam apenas o retorno da chuva ao Brasil central. A qualidade e quantidade dessas precipitações ainda não garantem um plantio seguro em todas as áreas produtoras, mas trazem alívio para a seca atual”, diz a meteorologista Heloísa Pereira.
Segundo ela, é preciso ficar atento, pois logo após essas chuvas há chance de uma janela de tempo seco aparecer, podendo durar mais de dez dias, o que atrapalharia o desenvolvimento inicial das plantas.
“Por enquanto, o conjunto de modelos indica esse padrão de janela de tempo mais seco até pelo menos a metade de outubro. E, isso pode sim prejudicar os produtores, ainda mais se a seca ocorrer acompanhada de calor acima da média”, comenta.
2. Área plantada
Um estudo preliminar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) revelou que o Brasil deve plantar 36,4 milhões de hectares no ciclo 2019/2020, contra 35,8 milhões hectares na safra anterior. O incremento representa alta de 1,7% no total semeado. A expectativa de alta acontece mesmo com expectativa de queda na rentabilidade.
A projeção de aumento no total semeado está em linha com levantamentos de consultorias privadas. A INTL FCStone calcula que a área plantada deve subir para 36,4 milhões de hectares, representando um crescimento médio de 1,6%. A empresa destaca a expansão sobre pastagens em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
No Rio Grande do Sul, a expectativa é de que o arroz perca áreas para a soja neste ano, principalmente na metade Sul do estado, além de alguma área de pastagem. Já na Bahia, espera-se a incorporação de áreas novas, além de expansão sobre o algodão.
3. Produção estimada
A expectativa da Conab é que nesta temporada, a produção da oleaginosa suba 7 milhões de toneladas, saindo de 115 milhões de toneladas da safra 2018/2019, chegando a 122,1 milhões de toneladas. Para isso, a produtividade deve crescer em torno de 140 quilos por hectare.
O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Guilherme Bastos, afirma que essa alta na produção deve ser puxada por uma elevação dos preços no mercado futuro, devido à redução na área plantada nos Estados Unidos.
Consultorias privadas também estimam aumento na produção do grão. A INTL FCStone, por exemplo, acredita que a produção brasileira atinja 121,4 milhões de toneladas, um crescimento de 5,5% frente a 2018/2019.
4. Insumos
O preço de um dos principais insumos agrícolas da soja (fertilizantes fosfatados e potássicos) registrou o patamar mais alto no primeiro semestre de 2019, ante mesmo período dos últimos 9 anos. O levantamento. realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), indicou que nesta safra, que é o mais importante para a análise, as cotações dos fertilizantes subiram, em média, 38%, devido ao aumento cambial.
5. Comercialização
A valorização do dólar sobre o real em agosto foi de 8,5% e os produtores de soja aproveitaram o momento para comercializar a safra 2019/2020, de acordo com a consultoria AgRural. Mas apesar do bom ritmo de negócios, alguns produtores ainda esperavam por preços melhores para avançar nas negociações no começo de setembro. Na última sexta, 13, a moeda norte-americana estava cotada a R$ 4,088.
A comercialização de soja em Mato Grosso, por exemplo, está adiantada em relação ao ano passado. Na primeira semana de setembro, as vendas somaram 31% da produção estimada de 32,8 milhões de toneladas, segundo projeção do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
6. Guerra comercial
Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmar na última quinta-feira, 12, o adiamento do aumento das tarifas aos produtos chineses de 1º de outubro para 15 do mesmo mês, o país asiático confirmou a compra de soja norte-americana.
Nesta sexta-feira, 13, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou a venda de 204 mil toneladas de soja para a China, e os volumes podem aumentar ainda mais. “Existe de fato um rumor de que os Estados Unidos tenham negociado 600 mil toneladas, mas até o momento o USDA anunciou apenas essas 204 mil. Isso não quer dizer que na próxima semana não sejam anunciadas novas vendas. Fazia bastante tempo que a China não comprava volumes relevantes de soja dos EUA”, diz o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras e Mercado.
Segundo ele, essa compra mostra boa vontade entre os países em relação ao embate comercial. “Nesta sexta-feira, a China anunciou que também adiou os aumentos de tarifas previstas para produtos dos Estados Unidos, incluindo a soja. Isso mostra a boa vontade entre os países. E essa venda de soja dos Estados Unidos parece carimbar a trégua parcial”, afirma Gutierrez.
Para o diretor da Arc Mercosul, Matheus Pereira, a China pode comprar de 1 a 2 milhões de toneladas de soja dos Estados Unidos entre novembro-dezembro.
“Pode ser até mais, chegando a 4 ou 5 milhões de toneladas, dependendo de como as conversas evoluíram em outubro. Isso pode sim trazer vantagens para o produtor do Brasil, já que os preços são formados com base em Chicago, que está subindo por conta do acordo”, comenta ele.
Pereira acredita que o Brasil não sentirá impactos negativos com isso. “Eu não diria que essas compras irão tirar as vendas do Brasil, até porque os embarques acontecem em um período que os estoques brasileiros estarão apertados. A situação só deve ficar ruim para o país caso a guerra comercial acabe, porque ai, com maior oferta global, os prêmios pagos cairiam”, finaliza.