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Cota de importação de trigo pelo Brasil vai vigorar em 2020, prevê Abitrigo

A indústria do trigo do Brasil tem expectativa de que a cota de 750 mil toneladas/ano de importação do cereal sem tarifa vai vigorar a partir de 2020, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, nesta terça-feira.

A cota, que deve valer para trigo de todas as origens fora do Mercosul, permitiria que moinhos brasileiros não pagassem Tarifa Externa Comum (TEC) de 10% para aquele volume, o que poderia beneficiar o grão dos Estados Unidos, Canadá, Rússia, entre outros produtores.

Dentro do Mercosul, as compras externas feitas pelo Brasil já não pagam a taxa.

A cota foi anunciada pelo presidente Jair Bolsonaro nos Estados Unidos, mais cedo neste ano, mas ainda não foi regulamentada.

“Estamos acompanhando de perto no Ministério da Economia, até o final do ano essas 750 mil toneladas estarão regulamentadas, o que permitirá a entrada de qualquer procedência, sem Tarifa Externa Comum”, disse Barbosa a jornalistas, explicando que a perspectiva é iniciar o próximo ano já com a cota funcionando.

“Já houve a decisão de se aceitar a cota… É um compromisso assumido pelo Brasil…”, acrescentou o presidente da Abitrigo, explicando que a decisão política já foi tomada.

A cota garantiria um volume do produto com competitividade semelhante às importações realizadas de países do Mercosul e poderia incomodar a Argentina, o principal fornecedor do cereal ao Brasil.

De janeiro a julho, as importações totais do Brasil, um dos maiores importadores globais de trigo, somaram 3,9 milhões de toneladas, sendo que 3,4 milhões vieram da Argentina. Volume menores foram comprados no Paraguai e Uruguai, além de Estados Unidos e Canadá —para compra desses dois últimos países, os negócios foram feitos com tarifa.

RÚSSIA NO JOGO

A cota poderia beneficiar, portanto, especialmente EUA e Canadá, que já exportam ao Brasil volumes complementares aos do Mercosul. Mas a Abitrigo também está de olho no trigo da Rússia, o maior exportador global do cereal.

Segundo os integrantes da Abitrigo, o trigo russo tem qualidade e seria mais uma alternativa aos moinhos brasileiros, ainda que o frete seja de cerca de 10 dólares/tonelada mais caro do que o produto obtido na América do Norte.

Uma missão da indústria brasileira esteve na Rússia recentemente, para conhecer melhor as especificações do produto russo. Mas ainda há uma questão técnica que precisa ser revolvida para os negócios deslancharem.

Pela norma brasileira, quem importa trigo russo precisa ter moinho nos portos para viabilizar os negócios, pois o produto russo precisa passar por análises fitossanitárias, para controle de pragas, antes de entrar no país.

Do contrário, é preciso coletar o produto nos navios para análises, o que causa uma demora de cerca de dez dias, inviabilizando o negócio pelo aumento de custos com o frete.

“Entre o momento em que faz a coleta no trigo no navio e até voltar o teste, são dez dias, 20 mil dólares por dia, de custo do navio (demurrage), são 200 mil dólares, isso afeta o negócio. Os moinhos têm muito interesse para desburocratizar…”, disse o presidente do Conselho Deliberativo da Abitrigo, João Carlos Veríssimo, destacando que o setor já está em contato com o Ministério da Agricultura para resolver a questão.

O Brasil possui poucos moinhos nas regiões portuárias, e o número é insuficiente para permitir grandes volumes com trigo russo, considerando a norma atual, disse a Abitrigo.

Por Roberto Samora

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