As pastagens brasileiras se configuram como a maior cultura agrícola do Brasil, ocupando mais de 170 milhões de hectares, com o pasto sendo o alimento quase que exclusivo do rebanho bovino que, hoje, é de aproximadamente 180 milhões de cabeças. Estimativas indicam que quase 97% da carne bovina brasileira é de animais alimentados somente com pastagens.
No entanto, apesar da inegável importância das pastagens nos sistemas pecuários brasileiros, estas ainda não são tratadas como deveriam, e, como consequência, não oferecem ao gado tudo que ele necessita.
Com a modernização da pecuária, as pastagens precisam ser tratadas como verdadeiras lavouras e, assim como as mais produtivas, devem ser devidamente manejadas com adubação e fertilização na dosagem e na forma correta, oferecendo alimento de maior qualidade que será convertido em eficiência no ganho de peso do gado durante o ano todo.
Porém, mesmo sabendo da necessidade da adubação em 99,9% das pastagens brasileiras, os pecuaristas ainda relutam em fazer uso desta tecnologia. Muitos pensam que o investimento é alto, e que nunca será pago. Será verdade isso? Veja, no post de hoje, o que uma boa adubação pode trazer às pastagens da sua propriedade.
Como “dobrar” o número de animais em produção?
Para responder essa pergunta, existem duas opções, uma quase que utópica e outra bastante possível.
Primeira opção
Se você quer dobrar o número de animais, compre outra fazenda, do mesmo tamanho, com as mesmas benfeitorias, assim você “dobrará” o número de animais em produção. Convenhamos que isso não é nada fácil e cômodo (muito menos barato), não é mesmo?
Segunda opção
Adube a sua pastagem! Ao adubar a pastagem com os nutrientes necessários, de forma correta e eficiente, ela irá responder positivamente e se tornará muito mais produtiva, aumentando a sua disponibilidade para o gado.
Com isso, você terá reais condições de melhorar a lotação de animais por área e aumentar a capacidade de suporte. Pode ser que você não consiga “dobrar” o número, mas, certamente, chegará perto disso e conseguirá produzir muito mais arrobas em uma mesma área, aumentando a produtividade e, por consequência, a lucratividade.
Principais elementos utilizados na fertilização das pastagens
Como vimos, assim como o milho, a soja e a cana-de-açúcar, as pastagens devem ser tratadas como verdadeiras lavouras. Desse modo, é importante saber como os principais elementos químicos se comportam no solo e na planta para que, assim, possa ser feita uma eficiente correção destes em busca de alta produtividade em massa forrageira. Veja abaixo os principais elementos:
Calagem (cálcio e magnésio): A função central da calagem é corrigir a acidez do solo, que promoverá uma melhora da produção da pastagem. Ela também eleva a saturação de base, melhorando as condições gerais do solo para que as plantas absorvam nutrientes naturais nele existentes.
Em solos ácidos e com baixa saturação de base, as aplicações de fósforo, potássio e nitrogênio não têm o efeito esperado: sem a aplicação do calcário, as gramíneas não possuem ideais para absorver esses elementos.
Nitrogênio:O nitrogênio é o elemento requerido em maior quantidade pelas plantas e constitui vários compostos, incluindo todas as proteínas, pois é parte dos aminoácidos e ácidos nucleicos e, consequentemente, do DNA e RNA. A deficiência de nitrogênio inibe rapidamente o crescimento da planta, já que o desenvolvimento é impossível se não há constituintes para subsidiar esse processo.
Sabe-se que a maior parte do nitrogênio está em estado gasoso (N2). Para que ele se torne passível de absorção pelas plantas, são possíveis duas formas. A primeira trata exatamente da fertilização, por meio da fixação industrial, ou seja, pela aplicação de nitrogênio na forma de adubos nitrogenados, tendo o amônio como o principal elemento percursor do nitrogênio nas pastagens. A segunda forma é a fixação biológica, que ocorre pela simbiose entre plantas leguminosas e bactérias rizóbios.
Fósforo: O fósforo é um elemento essencial para o metabolismo das plantas de pastagens, desempenhando papel importante na transferência de energia da célula, na respiração e na fotossíntese.
Limitações na disponibilidade de P no início do ciclo vegetativo possivelmente resultarão em restrições no desenvolvimento, das quais as plantas podem não se recuperam posteriormente, mesmo que haja correção do suprimento de P a níveis adequados.
Potássio: É absorvido na forma de cátion K+. Este elemento está presente na maior parte das fertilizações que utilizam o composto NPK. É um importante ativador enzimático em várias funções metabólicas, como respiração, síntese de carboidratos e proteínas e reações de fosforilação.
Também é responsável pelo movimento estomático e na turgescência celular. Por ser um elemento móvel, o potássio tem atuação na distribuição dos carboidratos produzidos durante a fotossíntese.
Fertilidade do solo rima com produtividade, que rima com lucratividade
O convencimento para qualquer produtor que ainda está na dúvida se vale a pena investir em fertilização das suas pastagens começa com estes termos: produtividade e lucratividade.
É mais do que comprovado que a correta fertilização do solo, atendendo todas as necessidades das plantas, traz ganhos em produtividade. E, com ela, maior será o ganho em arrobas por área e a lucratividade de todo o sistema.
Podemos considerar que o processo de adubação representa cerca de 20 a 25% do custo de produção de uma lavoura. É um custo considerável, que pode até desestimular pecuaristas a lançar mão deste tipo de manejo. No entanto, apesar de serem procedimentos caros (e muito trabalhosos), se forem seguidas todas as recomendações, custo e o trabalho extra são compensados à medida que a produtividade vai aumentando, sendo representados pelo maior ganho de peso diário do gado, inclusive na época da seca.
Vantagens diretas e indiretas da adubação das pastagens
Diversos estudos indicam as vantagens (tanto diretas quanto indiretas) que uma boa adubação das pastagens pode trazer ao sistema pecuário, visando sempre o aumento da produtividade por área e a maior lucratividade. Dentre as principais delas, destacam-se:
REFORMA NUNCA MAIS
Com o solo sendo adubado corriqueiramente, a tendência é que as características desejáveis se mantenham por mais tempo, não necessitando de grandes reformas da pastagem;
Redução no combate a plantas daninhas e cupins;
Redução da necessidade de fertilização para manutenção da produtividade
A médio e longo prazo, a produtividade pode ser mantida jogando de 10 a 15% menos adubo, o que gera uma economia
Redução dos teores de proteínas e fósforo nos suplementos minerais oferecidos aos animais, que serão, em parte, melhor ofertados pelo próprio capim
Redução do consumo de sal mineral por animal
Com uma forragem de melhor qualidade, a necessidade que o gado terá de lamber sal no cocho tende a ser menor
Melhor exploração do volume do solo
uma planta melhor nutrida terá raízes mais fortes, possibilitando a busca de nutrientes mais profundos no solo
Elevação da matéria orgânica do solo;
Aumento dos dias de uso e diluição dos de descanso das pastagens.
Otimização da mão de obra
Mesmo com a elevação do número de animais, a necessidade de mão de obra poderá ser praticamente a mesma.
Por que algumas experiências de adubação não dão certo? Qual pode ser a solução?
Vários podem ser os motivos do insucesso da adubação em pastagens. O primeiro erro que podemos observar refere-se à amostragem e à análise do solo realizadas de maneira erradas. Isso pode prejudicar toda a avaliação posterior da fertilidade do solo, com consequente recomendação de adubação.
Em muitos solos, nutrientes como o fósforo e/ou potássio podem não ser necessários, portanto, o uso destes adubos de maneira indiscriminada pode não gerar o resultado esperado, causando, inclusive, prejuízo ao pecuarista.
A solução, neste caso, é realizar a amostragem do solo da forma mais eficiente possível, para que a recomendação de adubação seja realizada com respaldo da análise.
Além disso, outro fator preponderante para o insucesso da adubação é a inexperiência do pecuarista. Muitos profissionais, no âmbito de crescer em produtividade a qualquer custo, adubam a pastagem sem ponderar nenhum outro fator. Nestes casos, a chance de falhas é grande.
Há, também, casos em que o pecuarista obtém sucesso na adubação, conseguindo aumentar a produção de massa verde. Porém, pecando novamente pela inexperiência, mantém na área a mesma quantidade de cabeças de antes da adubação. Com isso, ele pode estar subestimando a qualidade do seu pasto, colocando a culpa na fertilização, achando que essa não foi uma boa opção, quando, na verdade, ele está perdendo forragem e deixando de engordar mais animais.
Para esses casos, começar por áreas menores pode ser um ótimo aprendizado para esse pecuarista. Com o ganhar da experiência, a área adubada e a taxa de lotação podem ser aumentadas gradativamente, tendo ganhos em produtividade constantes. Além disso, o planejamento deve ser o pilar central de qualquer projeto de adubação das pastagens.
Por fim, outra falha bastante comum no manejo da fertilidade do solo é a não preocupação com o teor de matéria orgânica, já que é ela que permite a melhora nas propriedades químicas (liberação e fixação de nutrientes, regulação do pH), físicas (densidade e porosidade) e biológicas (fonte de alimento e substrato para o desenvolvimento de micro-organismos) do solo.
Para solucionar a falta de matéria orgânica, as corretas fertilizações do solo concomitante ao eficiente manejo do pasto podem ser bons pontos de partida para a recuperação da MO. Para todos esses “problemas”, a consultoria de um técnico experiente é a melhor solução: uma boa adubação deixa seu solo rico, sua planta melhor nutrida, seu animal gordo e, principalmente, seu bolso cheio.