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Especialistas alertam que o uso de calcário não é valorizado

Cálculos e aplicações sem a real necessidade do insumo geram resultado negativo

Insumo essencial à atividade agropecuária, o calcário é fundamental para o aumento dos índices de produtividade e lucratividade na soja, milho e outras culturas tradicionais, exigindo ao produtor rural a incorporação de evidências científicas às práticas da lida no campo. A relação entre calcário, correção da acidez e fertilidade do solo é direta, destacam os especialistas, tendo igualmente importância no sistema de plantio direto, já largamente adotado na agricultura de larga escala. E não somente às lavouras: o pasto que é base da pecuária extensiva também deve ter doses adequadas e regulares de calcário, dentro de um correto planejamento e manejo.

“É um desafio construir fertilidade com o calcário.”

Silvino Guimarães Moreira, da Universidade Federal de Lavras, é taxativo: os cálculos matemáticos subestimam a real necessidade de aplicação de doses de calcário nas lavouras. Ele observa que há muitos produtores que sequer fazem calagem de incorporação profunda antes da adoção do sistema de plantio direto, adotando apenas a aplicação superficial. Estudos da década de 90, relata Moreira, já evidenciavam o maior enraizamento das plantas, maior absorção de água do solo e maior absorção de nutrientes, com destaque ao nitrogênio e potássio, dados os efeitos benéficos da introdução da calagem em perfis mais profundos do solo.

“É um desafio construir fertilidade com o calcário. Para fazer essa construção no perfil do solo, é preciso ter esse manejo. Então, antes de entrar no plantio direto, é preciso fazer a lição de casa. O que está sendo o nosso desafio: muitos produtos, depois de entrar no plantio direto, já até venderam as grades para o ferro velho. Precisamos incorporar o calcário de forma profunda ao solo e muitas vezes o produtor sequer tem o maquinário básico necessário”, alerta.

Além disso, chama a atenção o pesquisador de Lavras, estudo realizado em Nazareno, em Minas Gerais, revelou que os cálculos matemáticos subestimaram a real necessidade de calcário. In loco, o experimento em solo com alto percentual de argila mostrou que na camada superficial do solo, de até 20 centímetros de profundidade, a necessidade de aplicação de calcário era muito maior que a recomendação oficial de manuais seguidos à risca na região. Os pesquisadores identificaram que seriam necessárias 9 toneladas de calcário por hectare para que se atingisse a saturação por bases desejada para mais produtividade na lavoura, ao nível de 70% na escala do índice conhecido como V% (relativo aos cátions básicos trocáveis nas reações químicas que acontecem no solo).

Coletânea de pesquisas apresentadas durante o congresso nacional realizado em Mato Grosso revela que as doses de calcário, em inúmeros experimentos realizados em MT e MG, deveriam ser elevadas de 50% a 100% para que o V% calculado seja realmente atingido no campo. É consenso entre os pesquisadores que é necessário rever as metodologias oficiais de recomendação de calcário para que o V% calculado realmente seja atingido.

DURABILIDADE
Os pesquisadores explicam que a calagem pode durar até três anos e recomendam que se faça um acompanhamento anual da fertilidade do solo, “uma vez que este é rápido, barato e os ganhos alcançados com esta prática podem ser satisfatórios do ponto de vista econômico e da sustentabilidade do sistema de produção”, justificam.

“A calagem é, sem dúvida, a prática agrícola de menor custo e maior retorno econômico, já que não só neutraliza os elementos tóxicos do solo e adiciona cálcio e magnésio, como também pode promover melhorias nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. é exatamente a partir dessas melhorias que todos os processos microbiológicos tais como a decomposição da matéria orgânica, a fixação biológica de nitrogênio, a atividade biológica do solo, entre outros, serão intensificados”, afirmam Schultz e Pereira.

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